Até então fora dos planos da companhia, importação da Rússia passará a ser uma alternativa de compra da Vibra
RIO – O presidente da Vibra Energia, Ernesto Pousada, disse nesta terça (15/8) que a importação de diesel russo, com desconto, se tornou uma tendência estrutural no mercado brasileiro e que, até então fora dos planos da companhia, passará a ser uma alternativa de compra da distribuidora.
A Rússia se tornou, desde abril, a maior fonte de diesel do Brasil no mercado mundial, superando a liderança histórica dos Estados Unidos. Com o aumento da importação do produto russo pelos concorrentes, a preços competitivos, a Vibra Energia perdeu participação no mercado de diesel, no período – sobretudo no segmento Transportador-Revendedor-Retalhista (TRR).
Pousada conta que a Vibra optou por ficar de fora das compras de diesel russo, num primeiro momento, enquanto avaliava questões de compliance. Segundo ele, “não há arrependimento” na decisão.
“A Vibra não atua de maneira oportunística. Esperamos, até o momento, e entendemos que, quando o petróleo cai [abaixo do teto de preço definido nas sanções das potências ocidentais], naturalmente o diesel russo estará conosco de maneira estrutural. Não podemos ficar de fora, vamos fazer isso [importação da Rússia], mas fizemos esse movimento quando tivemos certeza de que não era oportunístico, que era algo estrutural”, afirmou o executivo, durante teleconferência com analistas sobre os resultados do segundo trimestre.
Distribuidoras citam limites na importação da Rússia
Pousada citou que o desconto do diesel russo para o produto importado do Golfo do México tem variado, na média, entre R$ 100 e R$ 300 por m3.
Neste momento, contudo, o executivo vê uma janela de oportunidade mais estreita para importação da Rússia, porque os preços internacionais do diesel estão acima do teto definido pelas sanções da Europa e EUA – nesse contexto, os produtos russos acabam migrando para mercados onde as sanções são menos relevantes.
O diretor financeiro da Raízen, Carlos Alberto Moura, cita que a disponibilidade do produto russo depende muito da demanda de outras regiões, como o Oriente Médio e a China – prioridades dos produtores da Rússia.
Ele pontua que a desvalorização do real, frente ao dólar, também tende a reduzir a competitividade da compra dos produtos importados.
Moura cita, ainda, um outro aspecto da dinâmica do mercado que limita a penetração do diesel russo, na competição com o produto da Petrobras: distribuidoras que não respeitam as cotas mínimas de aquisição dos produtos da petroleira brasileira podem perder a garantia de suprimento.
“Ao lidar com a Petrobras, é necessário respeitar uma cota de suprimento. Caso se renuncie a essa cota, é preciso aguardar disponibilidade futura, o que não é positivo em termos de previsibilidade de distribuição”, explicou o executivo, a jornalistas, nesta terça.
Raízen ainda vê Brasil na rota da Rússia
Segundo ele, ainda existem navios com o combustível russo aguardando desembarque no Brasil.
O CEO da Raízen, Ricardo Mussa, disse que ainda vê o Brasil como um local de vazão para o diesel russo, mas pontuou que são operações mais complexas em comparação com outras regiões, como o Golfo do México americano, tradicionalmente a principal fonte de importações brasileiras.
“Acho que algumas empresas vão tomar mais cuidado com o diesel russo. No futuro, talvez peçam margens mais altas”, afirmou o executivo, durante teleconferência com analistas nesta terça (15).
A importação do diesel russo no Brasil tem crescido sobretudo devido à atuação de distribuidoras regionais – o que reduziu a competitividade das líderes de mercados nos últimos meses. A Raízen não confirma oficialmente se importou combustível da Rússia.
“Ainda estamos muito próximos da Petrobras, mas nós sempre procuramos a molécula mais competitiva”, disse o CEO. “Temos uma logística muita boa, nossa infraestrutura é importante, principalmente no Norte e Nordeste, e nós precisamos ser competitivos na importação naquela região”, acrescentou.
Vibra diz que recuperação do market share será gradual
Pousada citou que o aumento das importações da Rússia, pela concorrência, foi o principal fator para a perda de mercado da empresa no segundo trimestre.
Ele destacou que a companhia quer recuperar o market share, mas que isso será feito gradualmente.
“Não vamos fazer movimentos bruscos que afetem as margens. Vamos voltar ao tamanho que tínhamos, é nosso objetivo”, disse.
No segundo trimestre, o market share da rede de postos da Vibra caiu 1,4 ponto percentual, na comparação anual, para 22,7% – incluindo todos os combustíveis.
Na venda de diesel para o TRR, especificamente, a queda foi de 9,3 p.p., para 22%.