Os preços da gasolina e do óleo diesel já estão nos maiores patamares de 2023 e devem subir mais até o final do ano. A tendência, segundo especialistas ouvidos pelo Poder360, é que os valores continuem pressionados, sobretudo por causa de movimentos do cenário externo, como restrições na oferta de petróleo e aumento da demanda.
Na última 3ª feira (5.set), Rússia e Arábia Saudita, duas das maiores potências globais do setor, anunciaram a manutenção dos cortes de produção de petróleo. Os árabes estenderam por mais 3 meses a redução diária de oferta de 1 milhão de barris. Já os russos cortaram as exportações em 300 mil barris por dia.
O aperto na oferta de óleo impacta diretamente nos preços. É a lei do mercado: com menos produto disponível, o preço sobe. O barril tipo Brent, que é a referência internacional, atingiu US$ 90,60 na 4ª (6.set) –na maior cotação desde novembro de 2022.
O valor do barril de petróleo é um dos principais componentes para formação dos preços dos combustíveis. Começou o ano valendo US$ 82. Em 12 de junho, atingiu o patamar mais baixo do ano: US$ 71,80.
Enquanto a oferta está em baixa, a demanda global deve ter estabilidade ou até crescimento. Depende muito do comportamento da China. De acordo com o sócio-diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), Adriano Pires, a economia chinesa tem crescido, mas não o tanto que esperava o mercado.
“O que devemos ter é um cenário de aumento nos preços combustíveis ou de estabilidade, pelo menos. O tamanho disso depende muito do comportamento da China. Não dá, pela conjuntura atual, para projetar uma redução nos preços, a não ser que tenhamos um desacelerando da economia global”, afirmou.
Com as expectativas na China e outros fatores, analistas previam o barril a US$ 100 até o final do ano. Atualmente esse cenário parece menos provável.
“O câmbio está estabilizado, salvo se acontecer algum evento extraordinário. O barril a expectativa é de crescer no 2º semestre, com a oferta restrita, inflação e crescimento da economia chinesa, mas tem que ver o tamanho do crescimento”, diz Pires.
Esse cenário se soma aos problemas internos, que já têm elevado os preços. Na última semana, o óleo diesel ultrapassou R$ 6. Já o preço médio da gasolina no país ficou em R$ 5,87, tendo pela 2ª semana seguida o valor mais alto registrados no ano pela pesquisa da ANP (Agência Nacional de Petróleo e Gás Natural).
Por causa dos preços altos, o mercado já projeta redução no consumo de gasolina. Para setembro, a demanda deve cair 3,4%, a primeira queda desde a pandemia. O motivo é o aumento do consumo de etanol, que tem ficado mais competitivo, avalia Amance Boutin, especialista em combustíveis da Argus, empresa que é especializada na produção de relatórios e análises para o mercado de combustíveis.
“A perspectiva de demanda de gasolina no Brasil no resto do ano é de queda, após um aumento ininterrupto de consumo desde a covid. O consumidor está migrando para o etanol hidratado, que deve aumentar o consumo em 15%. A perspectiva interna de oferta não muda muito. Com a queda na demanda devemos ter uma folga maior no suprimento”, afirma.
Diesel tem cenário pior
O caso do diesel é o mais delicado. O preço vem numa escalada há 6 semanas e está hoje no maior valor desde fevereiro. E vai subir mais: na última 3ª feira (5.set), o governo retomou a cobrança de tributos federais sobre o combustível. A alíquota de PIS/Cofins será parcial, mas aumentará progressivamente até janeiro.
“A situação atual e nos próximos meses é de aperto da oferta de petróleo. Mas o mercado global ainda encontra uma ampla oferta de gasolina. No caso do diesel, impacta mais. A capacidade de suprimento nacional já está totalmente empregada e você precisa recorrer ao produto externo. E há tendência de alta de preço no mercado internacional de diesel”, diz Amance Boutin.
O especialista da Argus lembra que parte do diesel importado pelo Brasil é russo, que chega ao país por um custo menor. “[Esse diesel] vem com um desconto grande para o Brasil para poder escoar o produto em grandes mercados, já que não temos nenhuma restrição aqui para trazer produto russo. Mas com a prorrogação do corte da Rússia, isso deve impactar o valor do diesel deles.”
Os preços do diesel vinham em queda desde o início do ano, o que se acentuou depois do anúncio da nova política da Petrobras (BVMF:PETR4), que abandonou em maio o PPI (Preço de Paridade de Importação). Chegou a cair R$ 0,60 nas bombas só de maio a julho. Desde então, os valores vêm subindo a cada semana.
Primeiro, pela crise de abastecimento interna que reduziu os estoques de diesel no país por causa da queda nas importações. Com os preços que estavam sendo praticados pela Petrobras, trazer o combustível do exterior não estava compensando. E cerca de 25% do diesel consumido no país é importado. O resultado: alguns postos tiveram dificuldade em comprar. Com pouca oferta, os preços subiram.
Depois, houve o reajuste da Petrobras, anunciado em 15 de agosto, que aumentou os preços do diesel nas refinarias em 25%. Resolveu a maior parte da defasagem que, no entanto, ainda persiste.
Os valores atuais da estatal estão 14% abaixo das cotações internacionais (chegou a 30% de defasagem no início de agosto), indica relatório da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) divulgado na última 4ª feira (6.set). Eis a íntegra do documento (PDF – 634 KB).
Para analistas, caso o preço da Petrobras volte a se descolar muito do PPI, o cenário de dificuldade do abastecimento pode voltar, com novos cortes nas importações.
Fonte Investing