PPI é uma farsa: preço é atrelado a uma referência que ninguém realmente paga. Por Cláudio da Costa Oliveira.
O PPI foi introduzido na Petrobras em setembro de 2016, pelo então presidente Pedro Parente. Naquele momento, definiu-se que as correções nos preços seriam mensais, acompanhando as variações internacionais. Sem qualquer justificativa técnica ou econômica, Parente alterou essa regra em julho de 2017, autorizando reajustes diários. Foi o ponto de virada.
Coincidência ou não, em julho de 2017 também foi criada a Abicom – Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis. De “brasileira” só tem o nome: quem indica seu presidente é uma empresa britânica, a Green Energy, sócia da Shell em refinarias na Europa.
A partir daí, consolidou-se uma aliança de interesses internacionais dentro e fora do Brasil, empenhada em manter os combustíveis vendidos pela Petrobras atrelados ao dólar e ao mercado externo — como se o país não fosse autossuficiente em petróleo e não tivesse refinarias próprias.
A mudança de periodicidade dos reajustes — de mensal para diária — teve efeito devastador. Os caminhoneiros, que trabalham com fretes contratados antecipadamente, passaram a ser surpreendidos no meio da estrada: abasteciam com preço novo, mas o valor do frete havia sido combinado com o preço anterior.
O problema não foi apenas o percentual acumulado de aumentos (cerca de 50%), mas a falta total de previsibilidade. A insegurança no custo do diesel tornou inviável o planejamento e levou à greve dos caminhoneiros de 2018, um marco da insatisfação popular contra a política de preços da Petrobras.
A ANP (Agência Nacional do Petróleo), em seus relatórios, calcula o PPI com base nos preços do Golfo do México (EUA), referência dos contratos futuros. De fato, o Golfo do México é a origem do combustível importado pela Petrobras. Mas o Brasil não compra combustível majoritariamente dos EUA. Desde 2022, grande parte das importações vêm de Rússia, Índia e Oriente Médio, onde os preços são 20% a 30% menores.
Mesmo assim, a Abicom insiste em usar a metodologia da ANP, apresentando o PPI “teórico” como se fosse o custo real de importação. Seus filiados, no entanto, compram de países mais baratos — e ainda assim alegam que a Petrobras, muitas vezes, “vende abaixo da paridade”.
Quando acusada no Cade pela Abicom (início de 2018), a estatal respondeu com ironia e uma lógica irrefutável: “Se vendemos abaixo da paridade, como vocês continuam importando e lucrando?”
O PPI serve a três grupos:
- Importadores privados, que querem ampliar sua fatia no mercado brasileiro;
- Acionistas estrangeiros da Petrobras, que se beneficiam de dividendos recordes;
- Setores políticos e da mídia, que usam o discurso do “mercado livre” para justificar preços altos e privatizações.
Quem perde é o povo brasileiro — que paga combustível a preço de importação, mesmo vivendo num país que produz e exporta petróleo.
O PPI é uma farsa técnica e política. Não há “livre mercado” quando o preço é atrelado a uma referência que ninguém realmente paga. O Brasil precisa de uma política de preços nacional, baseada em custos reais de produção e importação, e não em simulações importadas do Golfo do México. “Quem vende ilusão de paridade, vende dependência e entrega soberania.”
Cláudio da Costa Oliveira é economista aposentado.
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Fonte https://monitormercantil.com.br