A população mundial está envelhecendo, isso não é segredo para ninguém. De um lado, observa-se uma queda nas taxas de natalidade, enquanto, do outro, os avanços na qualidade de vida prolongam a longevidade das pessoas. Nesse contexto, diversas nações enfrentarão, em breve, um cenário em que a população acima dos 60 anos superará a quantidade de indivíduos em idade ativa, o que impõe grandes desafios econômicos e sociais para os governos e instituições. Um dos países que está enfrentando a situação é o Japão.
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Mundialmente, entre 1950 e 1965, a Taxa de Fecundidade Total (TFT) era em torno de 5 filhos por mulher. A partir de 1966, a taxa começou a diminuir até chegar a uma média de 2,73 filhos por mulher no ano 2000. Em 2023, a TFT era de 2,31 e a estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) é que, até 2055, essa proporção caia para 2,1 filhos por mulher. No Japão, a taxa está em queda há alguns anos e o governo divulgou que, em 2023, a taxa foi de 1,2 filho por mulher em idade fértil.
Ainda em relação ao país, o Japão é mundialmente reconhecido por sua longevidade. De acordo com o Índice de Qualidade de Vida da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a média de idade dos habitantes do Japão atinge os 84 anos, estabelecendo um recorde como a mais alta expectativa de vida global.
O Brasil se encaminha para o mesmo destino. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país conta com uma média de 1,94 filhos por mulher, estando abaixo do índice mundial. A pirâmide etária está se estreitando e o índice de envelhecimento disparou de 30,7 para 55,2 em pouco mais de dez anos, isso significa que há 55,2 idosos para cada criança de 0 a 14 anos. Muito disso é reflexo da expectativa de vida que está em alta e, segundo o IBGE, a média é de 75,5 anos no Brasil, portanto podemos esperar mais longevidade dos brasileiros nos próximos anos.
Lições para o Brasil
O fato de termos pessoas mais longevas é extremamente positivo, pois demonstra que a saúde está evoluindo. Mas, o cenário carrega consigo alguns desafios, como menos pessoas economicamente ativas, mais idosos se aposentando, mais gastos do governo, maior necessidade de políticas públicas que atendam a essa população e queda no crescimento econômico.
Por isso, elenquei algumas soluções propostas e em andamento pelo governo japonês para propiciar um cenário estável, podendo servir de lição, positiva e negativa, para o Brasil e outros países que se encaminham para o mesmo destino.
- Incentivos para o nascimento de novos bebês. O governo tem tentado promover políticas mais favoráveis para mulheres com filhos e facilitar o equilíbrio entre trabalho e criação dos filhos, não apenas das mães, como também dos pais, que devem participar mais de perto do cuidado.
- Ampliar oportunidades no mercado de trabalho para mulheres, pois ainda há desigualdades no país. Assim, as mulheres conseguem mais estabilidade econômica e se sentem mais seguras para terem filhos. Além de proporcionar oportunidades de trabalho digna para profissionais de várias idades para redução de desigualdades e aumento do poder aquisitivo para que contribuam com o Kokumin Nenkin e Shakai Hoken, valores pagos para garantir a previdência social no Japão.
- Como acontece no Brasil, invariavelmente, são necessárias medidas que diminuam o valor dos benefícios e aumentem a idade mínima para se aposentar, que passou de 60 para 65 anos, proporcional ao aumento da expectativa de vida.
- Investir na saúde da população para que vivam mais anos saudáveis e independentes, sem necessitar de tantos cuidados do governo, da família ou de profissionais.
- Ainda na tentativa de melhorar a qualidade de vida dos idosos, existe a Lei sobre Seguro Assistencial de Longo Prazo, que levou à criação de um sistema que recolhe as contribuições dos trabalhadores para fornecer serviços médicos a idosos nos locais onde vivem. Os segurados pagam parte de seu tratamento.
- Além de medidas de contenção, o principal cuidado que os países devem ter está relacionado ao planejamento. Desde cedo os governos devem se preocupar com a infraestrutura de seus países para serem adequadas aos idosos, garantindo que envelheçam com qualidade, considerando saúde, educação, transporte adequado e economia favorável, sem que os jovens fiquem responsáveis por arcar com todos os custos e a economia não fique desprevenida. E o papel da população é acompanhar atentamente o cenário e demandar por ações para o futuro.
Fonte Sérgio Okamoto – Conjur