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O que a exploração de petróleo na Foz do Amazonas tem a ver com a saúde dos mares do planeta?

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O que a exploração de petróleo na Foz do Amazonas tem a ver com a saúde dos mares do planeta?

Este 8 de junho, Dia Mundial dos Oceanos, chega logo após a celebração de um acordo histórico entre países da Organização das Nações Unidas (ONU), em março. O pacto prevê a criação de zonas marítimas protegidas, que até 2030 devem chegar a 30% do total da área oceânica do planeta. 

A promessa internacional representa um desafio considerável e vai exigir vontade política, articulação e muitas mudanças. Segundo o Greenpeace, será preciso colocar 11 milhões de quilômetros quadrados sob proteção para que a meta seja atingida. 

No Brasil, a data vem acompanhada de um debate que tem causado polêmica dentro do próprio governo federal: a possibilidade de exploração petróleo na bacia da Foz do Amazonas. A região é reconhecida internacionalmente como uma área de grande importância ambiental para o planeta.

Saiba mais: Ibama nega licença para exploração de petróleo na bacia da foz do Amazonas

A influência do ecossistema para a vida marítima vai muito além do território brasileiro. Por segundo, o rio despeja 200 milhões de litro de água doce no mar. Isso representa 17% do total mundial de água continental e sedimentos em suspensão nos oceanos.  

A Costa Amazônica abriga 80% dos manguezais do Brasil, essenciais para a biodiversidade. Os recifes da região são habitat de mais de 90 espécies de peixes que sustentam as economias locais. Mais que isso, os ecossistemas contribuem com o balanço de gás carbônico, imprescindível para frear o aquecimento global.  

Em entrevista ao Brasil de Fato, o biológo e especialista em biologia marinha Vinicius Nora afirma que é preciso repenser o modelo de desenvolvimento do Brasil. Ele atua como gerente de Clima e Oceanos no Instituto Internacional Arayara e é mestre em ecologia.

Segundo Nora, o debate sobre a exploração na Foz do Amazonas não pode ser resumido a um único ponto. “A própria Petrobras tem outros cinco blocos nessa região e há outras empresas, que também estão interessadas, com licenciamento andando. Algumas pessoas quererem reduzir a discussão a um ponto fixo. Estamos falando o maior estuário do mundo. A costa amazônica não é um lugar qualquer”, alerta.

Milhões de pessoas e uma infinidade de espécies da flora e da fauna dependem da foz do Rio Amazonas e do Oceano Atlântico nesta faixa equatorial. O encontro entre os dois acontece em território brasileiro, mas o resultado desse encontro influencia territórios que vão até o Caribe.

Uma descoberta de 2016 ampliou ainda mais o peso que a conservação da bacia representa para o mundo. Cientistas encontraram recifes com mais de mil quilômetros de extensão no local, em profundidades que variam de 10 a 120 metros. 

São ecossistemas com características muito próprias, formados por meio de processos diferentes dos observados em outras formações semelhantes. Neles estão corais, esponjas, algas e outras espécies marinhas. Muitas delas ainda pouco estudadas.

“É preciso considerar que não se trata apenas de um bloco de petróleo, pois existem 328 blocos planejados entre oferta, estudo e concessão nessa região. Precisamos falar além da pluma que atinge outros países e considerar os impactos sinérgicos e cumulativos, ou seja, os impactos que se acumulam devido a vários efeitos e que podem poluir e afetar a região de fato”, pontua Vinicius Nora. 

Confira a entrevista completa a seguir.

Brasil de Fato: Por que e como a exploração de petróleo na Foz do Amazonas pode impactar águas oceânicas não só no Brasil, mas também de outros lugares do planeta?

Vinicius Nora: Vou tentar dividir a minha resposta em duas partes: o ponto de vista socioambiental e o ponto de vista econômico, porque tem uma perspectiva econômica de definição de desenvolvimento. Qual é o desenvolvimento que queremos para o nosso país?

Do ponto de vista socioambiental, a costa amazônica – além do ponto específico onde querem reduzir a discussão do petróleo na foz – é responsável por 80% da cobertura de manguezais do país. Estão divididos entre os estados do Amapá, Pará e Maranhão. Temos também o segundo maior conjunto de recifes do Brasil, que são os recifes amazônicos. Eles têm uma característica única, ainda pouco conhecida pela ciência, com inúmeras lacunas de conhecimento.

Além da questão ecossistêmica, também temos uma perspectiva social e econômica muito forte. Pará e Maranhão, em 2010, quando ainda tínhamos estatística pesqueira nacional, configuraram entre os cinco maiores produtores de pescado do país, então contribuem para a economia do Brasil de forma muito significativa.

São pescarias de pargo, pescada amarela, pesca e cata de caranguejo e camarão. O Maranhão tem um dos maiores bancos camaroeiros do Brasil. Então, você pode, no sudeste, no sul, no centro-oeste estar consumindo pescados dessa região.

Há um complexo social muito importante, com doze reservas extrativistas no litoral do Pará, outras quatro no Maranhão. Se esticarmos até o Delta do Parnaíba, que já deixa de ser costa amazônica, contamos outras cinco. Você tem estações ecológicas, áreas marinhas protegidas, como Área de Proteção do Marajó, três terras indígenas vinculadas à região do Oiapoque, o Parque Nacional do Cabo Orange.

Somente nas reservas extrativistas do Pará são 66 mil famílias que dependem da cata do caranguejo, fazem o extrativismo do açaí. Estamos falando de um lugar muito sensível dos pontos de vista social, ambiental e econômico.

Quando coloco a perspectiva econômica, coloco também uma perspectiva de longo prazo. A discussão tomou corpo e saiu da negativa de um único licenciamento que deveria se resumir a isso. Mas não, hoje estamos discutindo perspectivas de transição energética, que desenvolvimento queremos para o Brasil, legislações que vem sendo questionadas. A discussão da Foz do Amazonas vai ajudar a nos pautar para entender qual é o futuro que queremos para o nosso desenvolvimento energético e econômico. 

Há alertas de ambientalistas e organizações que apontam que as consequências de um eventual acidente na área chegariam até as águas Caribe, por exemplo. O que podemos falar sobre esses possíveis impactos?

A modelagem de dispersão de óleo é o estudo que mede como o óleo pode se comportar no caso de um vazamento. O primeiro estudo apresentado, originário de uma empresa que comprou antes da Petrobras, a BP, já mostrava fragilidades. Ele foi refeito após considerações do Ibama, continuou com essas fragilidades, foi aprovado com ressalvas e a Petrobras entregou outro estudo, que também apresenta fragilidades.

Mesmo com essas fragilidades, o tamanho da pluma de óleo que pode se formar é enorme. O Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) entregue pela Petrobras não mostra o impacto na costa do Brasil. No entanto, essa pluma é tão grande que atinge a costa da Guiana, Guiana Francesa, Suriname, entre outros países, isso em uma perspectiva de algumas dezenas de horas.

Isso pode ocorrer de diferentes formas, porque é uma modelagem, um sistema matemático desenvolvido para dar direcionamento e ajudar a definir as áreas de influência nas quais o empreendimento deveria fazer planos de comunicação, programas de proteção da fauna, entre outras questões relacionadas ao licenciamento.

Este 8 de junho, Dia Mundial dos Oceanos, chega logo após a celebração de um acordo histórico entre países da Organização das Nações Unidas (ONU), em março. O pacto prevê a criação de zonas marítimas protegidas, que até 2030 devem chegar a 30% do total da área oceânica do planeta. 

A promessa internacional representa um desafio considerável e vai exigir vontade política, articulação e muitas mudanças. Segundo o Greenpeace, será preciso colocar 11 milhões de quilômetros quadrados sob proteção para que a meta seja atingida. 

No Brasil, a data vem acompanhada de um debate que tem causado polêmica dentro do próprio governo federal: a possibilidade de exploração petróleo na bacia da Foz do Amazonas. A região é reconhecida internacionalmente como uma área de grande importância ambiental para o planeta.

Saiba mais: Ibama nega licença para exploração de petróleo na bacia da foz do Amazonas

A influência do ecossistema para a vida marítima vai muito além do território brasileiro. Por segundo, o rio despeja 200 milhões de litro de água doce no mar. Isso representa 17% do total mundial de água continental e sedimentos em suspensão nos oceanos.  

A Costa Amazônica abriga 80% dos manguezais do Brasil, essenciais para a biodiversidade. Os recifes da região são habitat de mais de 90 espécies de peixes que sustentam as economias locais. Mais que isso, os ecossistemas contribuem com o balanço de gás carbônico, imprescindível para frear o aquecimento global.  

Em entrevista ao Brasil de Fato, o biológo e especialista em biologia marinha Vinicius Nora afirma que é preciso repenser o modelo de desenvolvimento do Brasil. Ele atua como gerente de Clima e Oceanos no Instituto Internacional Arayara e é mestre em ecologia.

Segundo Nora, o debate sobre a exploração na Foz do Amazonas não pode ser resumido a um único ponto. “A própria Petrobras tem outros cinco blocos nessa região e há outras empresas, que também estão interessadas, com licenciamento andando. Algumas pessoas quererem reduzir a discussão a um ponto fixo. Estamos falando o maior estuário do mundo. A costa amazônica não é um lugar qualquer”, alerta.

Milhões de pessoas e uma infinidade de espécies da flora e da fauna dependem da foz do Rio Amazonas e do Oceano Atlântico nesta faixa equatorial. O encontro entre os dois acontece em território brasileiro, mas o resultado desse encontro influencia territórios que vão até o Caribe.

Uma descoberta de 2016 ampliou ainda mais o peso que a conservação da bacia representa para o mundo. Cientistas encontraram recifes com mais de mil quilômetros de extensão no local, em profundidades que variam de 10 a 120 metros. 

São ecossistemas com características muito próprias, formados por meio de processos diferentes dos observados em outras formações semelhantes. Neles estão corais, esponjas, algas e outras espécies marinhas. Muitas delas ainda pouco estudadas.

“É preciso considerar que não se trata apenas de um bloco de petróleo, pois existem 328 blocos planejados entre oferta, estudo e concessão nessa região. Precisamos falar além da pluma que atinge outros países e considerar os impactos sinérgicos e cumulativos, ou seja, os impactos que se acumulam devido a vários efeitos e que podem poluir e afetar a região de fato”, pontua Vinicius Nora. 

Confira a entrevista completa a seguir.

Brasil de Fato: Por que e como a exploração de petróleo na Foz do Amazonas pode impactar águas oceânicas não só no Brasil, mas também de outros lugares do planeta?

Vinicius Nora: Vou tentar dividir a minha resposta em duas partes: o ponto de vista socioambiental e o ponto de vista econômico, porque tem uma perspectiva econômica de definição de desenvolvimento. Qual é o desenvolvimento que queremos para o nosso país?

Do ponto de vista socioambiental, a costa amazônica – além do ponto específico onde querem reduzir a discussão do petróleo na foz – é responsável por 80% da cobertura de manguezais do país. Estão divididos entre os estados do Amapá, Pará e Maranhão. Temos também o segundo maior conjunto de recifes do Brasil, que são os recifes amazônicos. Eles têm uma característica única, ainda pouco conhecida pela ciência, com inúmeras lacunas de conhecimento.

Além da questão ecossistêmica, também temos uma perspectiva social e econômica muito forte. Pará e Maranhão, em 2010, quando ainda tínhamos estatística pesqueira nacional, configuraram entre os cinco maiores produtores de pescado do país, então contribuem para a economia do Brasil de forma muito significativa.

São pescarias de pargo, pescada amarela, pesca e cata de caranguejo e camarão. O Maranhão tem um dos maiores bancos camaroeiros do Brasil. Então, você pode, no sudeste, no sul, no centro-oeste estar consumindo pescados dessa região.

Há um complexo social muito importante, com doze reservas extrativistas no litoral do Pará, outras quatro no Maranhão. Se esticarmos até o Delta do Parnaíba, que já deixa de ser costa amazônica, contamos outras cinco. Você tem estações ecológicas, áreas marinhas protegidas, como Área de Proteção do Marajó, três terras indígenas vinculadas à região do Oiapoque, o Parque Nacional do Cabo Orange.

Somente nas reservas extrativistas do Pará são 66 mil famílias que dependem da cata do caranguejo, fazem o extrativismo do açaí. Estamos falando de um lugar muito sensível dos pontos de vista social, ambiental e econômico.

Quando coloco a perspectiva econômica, coloco também uma perspectiva de longo prazo. A discussão tomou corpo e saiu da negativa de um único licenciamento que deveria se resumir a isso. Mas não, hoje estamos discutindo perspectivas de transição energética, que desenvolvimento queremos para o Brasil, legislações que vem sendo questionadas. A discussão da Foz do Amazonas vai ajudar a nos pautar para entender qual é o futuro que queremos para o nosso desenvolvimento energético e econômico. 

Há alertas de ambientalistas e organizações que apontam que as consequências de um eventual acidente na área chegariam até as águas Caribe, por exemplo. O que podemos falar sobre esses possíveis impactos?

A modelagem de dispersão de óleo é o estudo que mede como o óleo pode se comportar no caso de um vazamento. O primeiro estudo apresentado, originário de uma empresa que comprou antes da Petrobras, a BP, já mostrava fragilidades. Ele foi refeito após considerações do Ibama, continuou com essas fragilidades, foi aprovado com ressalvas e a Petrobras entregou outro estudo, que também apresenta fragilidades.

Mesmo com essas fragilidades, o tamanho da pluma de óleo que pode se formar é enorme. O Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) entregue pela Petrobras não mostra o impacto na costa do Brasil. No entanto, essa pluma é tão grande que atinge a costa da Guiana, Guiana Francesa, Suriname, entre outros países, isso em uma perspectiva de algumas dezenas de horas.

Isso pode ocorrer de diferentes formas, porque é uma modelagem, um sistema matemático desenvolvido para dar direcionamento e ajudar a definir as áreas de influência nas quais o empreendimento deveria fazer planos de comunicação, programas de proteção da fauna, entre outras questões relacionadas ao licenciamento.

Fonte Brasil de fato

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