Combustível reduz dependência de importação e promete mais octanagem, proteção para o motor e desempenho mais estável em motores modernos
Há cerca de dois meses, o Brasil lançou oficialmente a nova gasolina E30, com 30% de etanol anidro na sua composição (em vez dos 27% anteriores). A mudança entrou em vigor em todo o país a partir de 1º de agosto de 2025, com novas misturas nos combustíveis (como o B15 para o diesel).
A E30 já se encontra nos postos, à medida que os estoques da fórmula antiga vão se esgotando, o novo é reabastecido.
Nem todos os postos já têm o E30, isso dependerá da logística regional, da rotatividade dos estoques e da distribuição local.
A ANP está em processo de consulta pública para ajustes nas especificações da gasolina tipo C, com vistas a garantir a qualidade uniforme do combustível com a nova proporção de etanol.
O que é a gasolina E30?
E30 é a nova designação para a gasolina que contém 30 % de etanol anidro misturado à gasolina fóssil (ou seja, 70 % de hidrocarbonetos). Até agora, o padrão nacional era algo como “E27” (com cerca de 27 % de etanol).
Para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, especialmente importados. O governo estima que, com a adoção da gasolina E30, o Brasil deixará de importar cerca de 760 milhões de litros de gasolina por ano.
Para fortalecer a produção nacional de etanol: estima-se que a demanda adicional gerada será da ordem de 1,5 bilhão de litros.
Para, potencialmente, reduzir a emissão de gases de efeito estufa projeções indicam que poderiam ser evitadas até 1,7 milhão de toneladas por ano.
Nova gasolina E30 fortalece a produção nacional de etanol – Foto: Luiz Alberto/Correio do Estado/ND
E oferecer um combustível com maior octanagem (resistência à detonação). A octanagem padrão sobe de 93 RON para 94 RON com a nova mistura.
A mistura já foi testada e é segura para os veículos?
Sim. O relatório final do estudo “Avaliação da utilização do percentual de 30 % do etanol anidro na gasolina”, conduzido pelo IMT (Instituto Mauá de Tecnologia) a pedido do Ministério de Minas e Energia, concluiu que a nova mistura é viável tecnicamente, sem impactos negativos relevantes no desempenho, consumo, emissões ou dirigibilidade.
Nos testes realizados com 16 veículos (de diferentes idades) e motocicletas, em condições de laboratório e de uso real os veículos movidos a gasolina E30 tiveram comportamento muito semelhante aos movidos à gasolina com teor de etanol atual.
Ainda assim, para garantir a qualidade do produto diante da nova composição, a ANP (Agência Nacional do Petróleo) revisou especificações da gasolina (gasolina tipo C) para assegurar que o componente “puro” que integra a mistura (gasolina A) atenda aos requisitos necessários.
Com a nova gasolina E30, é possível que veículos muito antigos ou sistemas não preparados sofram mais sensivelmente impactos – Foto: Reprodução/Freepik/ND
O que muda para os motoristas e para os veículos?
Como o etanol tem menor poder calorífico que a gasolina (isto é, menos energia por unidade de volume), espera-se alguma queda de autonomia nos carros embora os testes apontem que essa perda tende a ser pequena e dentro de margens aceitáveis.
Em compensação, a elevação da octanagem pode proporcionar melhor desempenho em motores mais modernos ou em condições de uso mais severas (maiores compressões), reduzindo riscos de detonação.
Testes de partida a frio, marcha lenta, retomadas e compatibilidade dos materiais do sistema de combustível (borrachas, juntas, bombas etc.) mostraram que a gasolina E30 não apresenta falhas significativas comparadas à formulação anterior.
É possível que veículos muito antigos ou sistemas não preparados sofram mais sensivelmente impactos, principalmente nos componentes sensíveis à etanol (corrosão, desgaste).
Há expectativa de que o litro da gasolina E30 seja um pouco mais barato, estimativas indicam redução de cerca de R$ 0,11 por litro em relação à fórmula anterior, dependendo da região e dos custos logísticos.
Por outro lado, a competitividade entre gasolina e etanol dependerá dos preços relativos no mercado — se o etanol for muito caro, pode reduzir-se o uso da nova gasolina ou favorecer maior uso de etanol hidratado.
Quais veículos podem ser abastecidos com E30?
A maioria dos veículos leves a gasolina e flex que já utilizam gasolina com até 27 % de etanol devem adaptar-se bem à nova mistura, dado que os sistemas modernos de injeção eletrônica conseguem ajustar parâmetros como tempo de injeção, mistura e detonação. Os testes compreendem modelos de diferentes anos e mostraram baixa penalização.
Veículos híbridos, importados ou muito antigos (principalmente fabricados antes da década de 1990) podem apresentar maior risco de incompatibilidade, sobretudo em sistemas antigos de combustível, bombas ou componentes internos sensíveis ao etanol.
Motores carburados mais antigos ou sistemas que não eram originalmente concebidos para altas proporções de etanol devem ser avaliados cautelosamente, embora os estudos tenham incluído motocicletas em testes.
Em síntese: veículos com sistemas atuais de injeção e compatibilidade com gasolina aditivada têm grandes chances de rodar com a nova gasolina E30 sem problemas perceptíveis. Para modelos muito antigos ou importados, pode haver necessidade de avaliação técnica ou consulta ao fabricante.
Florianópolis é a capital com maior aumento no preço da gasolina em 2025 – Foto: RICARDO WOLFFENBUTTEL/ND
Fonte https://ndmais.com.br/