Até quando a empresa vai trabalhar para se autodestruir como estatal? Por Cláudio da Costa Oliveira
A Petrobras nasceu em 1953 como refinadora, porque o Brasil não tinha petróleo. Depois veio a Bacia de Campos, depois o pré-sal… e nos tornamos grandes produtores. Mas o que deveria ser um patrimônio nacional está sendo corroído por dentro. A Petrobras, estatal criada para servir ao Brasil, trabalha hoje para se autodestruir como estatal.
A Constituição é clara: a Petrobras é uma empresa estatal estratégica. O petróleo é do povo brasileiro. Logo, o retorno deveria ser para a sociedade. Mas não é isso que acontece.
O que acontece na prática
A Petrobras virou uma máquina de dividendos. Lucros bilionários são distribuídos em sua maior parte a acionistas privados, muitos estrangeiros. Enquanto isso, os brasileiros pagam gasolina e diesel entre os mais caros do mundo.
Em artigo da Exame de 19/9/2025, a presidente da Petrobras afirmou: “A Petrobras baixa o preço, mas a margem fica no caminho”, colocando a culpa dos altos preços brasileiros na distribuição e revenda. Mas será mesmo? Ou isso é apenas uma cortina de fumaça?
O problema real
Distribuição e revenda devem ser acompanhadas de perto pelos órgãos responsáveis, como o Ministério Público e a ANP, pois são constantes as ocorrências de cartéis e falsificação de produtos. Mas estes não são os principais males.
O verdadeiro problema está no preço de saída das refinarias. A Petrobras publica semanalmente a composição dos preços no Brasil, como vemos a seguir:
Diesel:
- R$ 0,97 Distribuição e Revenda (16%)
- R$ 0,85 Biodiesel (14%)
- R$ 1,12 Imposto estadual (18,5%)
- R$ 0,32 Impostos federais (5,3%)
- R$ 2,80 Parcela Petrobras (46,2%)
Preço Médio do Brasil: R$ 6,06
(Elaboração Petrobras a partir de dados da ANP, baseados nos preços médios de diesel S-10 da Petrobras – diesel A – e nos preços médios de diesel S-10 ao consumidor final – diesel B – nos 26 estados e no Distrito Federal, considerando a mistura obrigatória de 15% de biodiesel. Período de coleta: de 7/9/2025 a 13/9/2025)
Como você pode ver, a Petrobras é responsável por uma parte do valor do seu combustível, mas outros fatores entram no cálculo do valor que chega até você.
Vejam que, do preço do diesel na bomba, a Petrobras recebe R$ 2,88. Porém, este valor corresponde a 86% do litro, pois 14% é biodiesel.
Portanto, para saber o preço de 1 litro de diesel cobrado pela Petrobras, é preciso dividir por 0,86. Ou seja, a Petrobras cobra R$ 2,88 ÷ 0,86 = R$ 3,35 por litro de diesel.
A empresa não informa isso, o que deveria ser obrigatório, mas é possível avaliar com boa precisão que a produção de um litro de diesel custa menos de R$ 1,10. Portanto, sua receita de venda é três vezes o custo de produção. Ou seja: produz barato, mas vende caro ao próprio brasileiro.
Essa política garante dividendos recordes para acionistas e condena a estatal a perder legitimidade perante o povo que deveria servir.
O que a Petrobras deveria ser
A Petrobras não é uma empresa qualquer. Ela é um instrumento de desenvolvimento nacional. Seus lucros deveriam significar: combustível mais barato; mais saúde; mais educação; mais energia para todos. Mas o que temos visto é a riqueza nacional capturada pelo mercado financeiro.
Em 2016, foi implantado na Petrobras, na estatal brasileira, o Preço de Paridade de Importação (PPI), fazendo com que os preços de venda nas refinarias fossem equivalentes ao produto importado. Um verdadeiro absurdo.
Em 2018, durante a campanha eleitoral, o então candidato Jair Bolsonaro afirmou que acabaria com o PPI imediatamente, caso fosse eleito. Passou quatro anos no poder e nada fez.
O atual ministro de Minas e Energia, à qual a Petrobras é subordinada, Alexandre Silveira, disse na imprensa (vejam no Google) que o PPI é um crime contra a economia e o povo brasileiro. Nada fez.
O atual presidente, Lula, durante a campanha em 2022, prometeu “abrasileirar” os preços dos combustíveis. Até agora, nada.
Onde está nossa soberania?
Conclusão
O petróleo é nosso. A Petrobras é estatal. Mas age como se trabalhasse contra si mesma, abrindo mão de seu papel social e estratégico em nome de acionistas privados. A pergunta é direta: até quando a Petrobras vai trabalhar para se autodestruir como estatal?
Fonte https://monitormercantil.com.br/
Cláudio da Costa Oliveira é economista aposentado.