O roteiro para o fim da Petrobrás já está pronto e em andamento
A Petrobrás sofre hoje a maior ameaça à sua sobrevivência em sua história. Administrada por financistas obedientes ao capital internacional, cuja visão rentista despreza a importância da empresa para o desenvolvimento da nação e que contam com o apoio irrestrito de uma mídia hegemônica despudorada
Próxima a completar 67 anos de existência, a Petrobrás sofre hoje a maior ameaça à sua sobrevivência em sua história.
Administrada por financistas obedientes ao capital internacional, cuja visão rentista despreza a importância da empresa para o desenvolvimento da nação e que contam com o apoio irrestrito de uma mídia hegemônica despudorada, comprometida com interesses externos, que para atingir seus propósitos e capaz de transformar mentiras absolutas em verdades, para a opinião pública brasileira. Tudo acompanhado de perto por uma elite espúria e incompetente, que se sente mais confortável com um país colônia, submisso e sem soberania sobre o seu próprio destino.
MENTIRAS ABSOLUTAS E ESCANDALOSAS
A Petrobrás anunciou recentemente (19/02) com euforia o lucro de R$ 40 bilhões obtido no exercício de 2019. Seu presidente, Castello Branco, em mensagem bradou orgulhoso “O maior lucro da história da companhia”
Quanta sordidez. Basta dar uma olhada no Balanço publicado; não é necessário ser um especialista para verificar que o resultado foi obtido com o “lucro” de R$ 24 bilhões, pela venda de ativos (com destaque para a TAG) e de R$ 14 bilhões, com a venda do controle da BR Distribuidora. Mesmo assim a empresa distribuiu mais de R$ 10 bilhões aos acionistas.
Interessante como a mídia hegemônica não percebeu a importância do fato, tendo feito apenas pequenos ou nenhum comentário. E o mercado ? Bem, o mercado aplaudiu não o resultado, mas a distribuição de dividendos. Para o mercado dividendo é sempre bom, venha ele de lucro ou de venda de ativos.
Excluidos estes efeitos (venda de ativos e da BR) o resultado foi , com certeza, um dos piores da história da companhia.
Mais recentemente (29/02) foi divulgado o resultado em dólares, tendo a empresa registrado um lucro equivalente a US$ 10,2 bilhões, da mesma forma puxado pela venda de ativos ( US$ 6,7 bilhões) e do controle da BR Distribuidora (US$ 2,4 bilhões) . Portanto, para efeito de comparação, o resultado em 2019 foi de US$ 1,1 bilhão (10,2 – 6,7+2,4)
Em sua mensagem o presidente também destaca um importante aspecto financeiro :
“os desinvestimentos e a forte geração de caixa operacional – um valor recorde de US$ 25,6 bilhões – permitiram a redução da dívida em US$ 24 bilhões.”
O que será que ele entende por “recorde”? Se levantarmos a geração de caixa operacional da companhia nos últimos anos temos o seguinte:
Petrobrás
Geração de caixa operacional – US$ bilhões
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
33,7 27,0 26,3 26,6 25,9 26,1 27,1 26,4 25,6
De fato o presidente tem razão. Foi recorde de pior geração de caixa operacional dos últimos 9 anos (pelo menos).
Tanta mentira e ninguém questiona ?
Notem que no período (2011/2014) em que mídia hegemônica dizia que a empresa estava à beira da insolvência, causada pela corrupção e pelo subsidio ao mercado interno, ela obtinha as maiores gerações de caixa operacional.
OUTROS DADOS FINANCEIROS
Se são capazes de contar tantas mentiras, imaginem o que eles não ocultam.
Um importante indicador da saúde financeira de uma empresa é a liquidez corrente (divisão do ativo corrente pelo passivo corrente) que mostra a capacidade da sociedade cumprir com seus compromissos de curto prazo ( um ano ). Quanto maior o indicador mais tranquila é a situação financeira da empresa.
Petrobras – Liquidez corrente
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
1,9 1,8 1,7 1,5 1,6 1,5 1,8 1,9 1,5 0,97
Outro recorde de Castello Branco, a pior liquidez corrente da história. Notem que no período (2010/2014) em que diziam que a companhia passou por problemas financeiros, foram obtidos os maiores índices.
Casttello Branco conseguiu, pela primeira vez na história, reduzir a liquidez corrente da Petrobras para menos de 1,00.
Isto significa dizer que a empresa está com capital de giro negativo (ativo corrente – passivo corrente). No jargão contábil “está vendendo o almoço para comprar a janta”
De menor importância mas que também mostra o nível de conforto financeiro de uma empresa temos o seu saldo de caixa.
Petrobrás – Saldo de Caixa US$ bilhões
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
17,7 19,1 13,6 15,9 16,7 25,1 21,2 22,5 13,9 7,4
Novo recorde, o menor caixa da década. Para quem sempre afirmou que a empresa passou por sérios problemas financeiros, o que dizer do momento atual ?
ASPECTOS ECONÔMICOS
Dados Petrobrás 2011 2013 2018 2019
Lucro US$ bilhões 20 11 7 1,1*
Remuneração acionistas
Preço corrente R$ bilhões** 12 9,3 7 10,5
Remuneração acionistas
Preço 2019 R$ bilhões 18,3 12,5 7,3 10,5
*excluindo venda de ativos
**dividendos e juros sobre capital próprio
Vejam como no período em que a companhia trabalhava em favor da população brasileira os lucros eram maiores e a remuneração dos acionistas também.
Vale lembrar também a queda na receita liquida no período mesmo com os preços internos calculados em US$ – PPI .
Dados Petrobrás 2017 2018 2019
Receita Liquida US$ bilhões 88,2 84,6 76,6
RELEVANCIA DA EMPRESA
Alguns dados que mostram a importância da Petrobrás para a economia brasileira
Dados Petrobrás 2011 2013 2018 2019
Empregados mil 81,9 86,1 63,4 57,9
Investimento US$ bilhões 43 45 13 10,7
Gastos com pesquisa US$ bilhões 1,5 1,1 0,6 *
*ainda não disponível
O QUE ESTÁ ACONTECENDO ?
A venda de ativos imprescindíveis (NTS, TAG, BR Distribuidora etc) aliada a uma política de preços de autoflagelo, chamada de Preço de Paridade de Importação- PPI desmontaram o equilíbrio e conforto financeiro que a companhia mantinha há muitos anos.
É oportuno salientar a política de preços (PPI) pois a maioria dos brasileiros e também dos petroleiros, acredita que os preços estabelecidos pela Petrobras em suas refinarias tem como base apenas os preços internacionais. Esta crença foi difundida pela administração da empresa e pela mídia à partir de 2016 para iludir a população brasileira.
Na realidade o Preço de Paridade Internacional – PPI, considera o preço internacional do produto(diesel, gasolina e gas) fora do Brasil, acrescenta os gastos com frete até um porto brasileiro, soma os gastos com internação(portuários, alfandegários etc), adiciona um seguro para garantir a estabilidade cambial e do preço do produto durante o tempo de importação e ainda atribui um lucro. Entenderam ? Portanto .
PPI = custo de importação + lucro
Com esta política a companhia permite que seus concorrentes no exterior vendam seus produtos no Brasil, tomando mercado da própria Petrobrás. Ou seja, é a Petrobrás fazendo caridade para seus concorrentes. Uma verdadeira jabuticaba venenosa, que não existe e nunca existiu em lugar nenhum do planeta.
Mas os acionistas não reclamam desta situação ?
Não porque de um lado, os acionistas brasileiros mal conhecem o que é PPI e seus efeitos nocivos. Acreditam no que é informado pela mídia hegemônica.
Recentemente, em editorial, um “jornalão” defendeu a excrescência chamada PPI. No passado, este mesmo “jornalão” primeiro divulgou que o pré-sal não existia e depois que a Petrobrás não tinha tecnologia e por fim que estava quebrada. Mentira absoluta como vimos nos dados financeiros da companhia expostos acima.
Por outro lado os acionistas estrangeiros não tem o que reclamar, pois são também sócios das empresas estrangeiras que se beneficiam com a jabuticaba venenosa.
E EM 2020 A SITUAÇÃO MELHORA ?
Pelo contrário, a tendência é piorar ainda mais. A empresa está completamente desestruturada e o resultado depende de venda de ativos. Por isto a pressa em vender as refinarias. Se isto não ocorrer há chance da companhia apresentar prejuízo em 2020, e é muito grande, a não ser que o preço do petróleo suba tanto que a venda de óleo crú resolva o problema.
Os indicadores financeiros tendem a piorar
E APÓS 2020, QUAL É O CENÁRIO ?
A Petrobras acaba de adquirir o direito de exploração de petróleo no chamado excedente da cessão onerosa.
O Plano de Negocios e Gestão – PNG 2020/2024 da companhia prevê investimentos da ordem de US$15 bilhões/ano no período, o que indica que não estão previstos investimentos para produção na área recém adquirida, pois isto exigiria volumes muito maiores de recursos.
O engenheiro Fernando Siqueira, diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras-AEPET em recente artigo sobre a compra pela Petrobrás dos direitos de exploração do excedente da cessão onerosa salienta ,
“favorecida pelo fato de seu consórcio concorrer sozinho e dar um percentual de óleo lucro de apenas 23% para a União, contra 80% cobrado pelos países exportadores de petróleo.
Nossa preocupação agora é com a possibilidade do cartel do petróleo estar preparando a compra da Petrobras com todo este acervo de reservas e de tecnologia.
Se não, como explicar a não participação das multinacionais em uma oferta desta importância ? “
O especialista Nick Cunningham explica :
“Desde de 2010, as cinco maiores empresas petrolíferas gastaram muito mais do que geraram ao incluir pagamento aos acionistas. ExxonMobil, BP,Chevron, Total e Royal Dutch Shell distribuíram US$ 536 bilhões em dividendos e recompra de ações desde 2010, um número que excede em muito os US$ 329 bilhões em fluxo de caixa livre no mesmo período”
“Essa prática reflete uma fraqueza subjacente nos fundamentos dos modelos contemporâneos de negócios de petróleo e gás : as receitas das operações das grandes petroleiras não estão cobrindo suas principais despesas operacionais e gastos de capital”
“Dividendos generosos e recompras de ações dão às empresas a aparência de desempenho financeiro confiável, quando, nesse caso, o oposto é verdadeiro”
Enquanto isso, a ExxonMobil não está desacelerando, gastando em níveis agressivos, enquanto perfura o Permiano e tenta acelerar suas descobertas de petróleo na Guiana.
Segundo o Citigroup “A ExxonMobil precisaria que os preços do petróleo fossem negociados a cerca de US$ 100 o barril para que a empresa pagasse todos os seus gastos e também cobrisse os pagamentos dos acionistas”
Em situação desesperadora as petroleiras internacionais precisam aumentar suas reservas para sobreviver.
A Agência Internacional de Energia – AIE afirma:
“O uso de óleo em carros de passeio atinge o pico no final da década de 2020 e, durante a década de 2030, a demanda aumenta em apenas 0,1 mb/dia em média a cada ano. Mas não há um pico definitivo no uso de petróleo em geral, pois há aumentos contínuos em petroquímicos, caminhões e nos setores de transporte e aviação”
Considerando que os grandes investidores internacionais (BlackRock, Vanguard, JPMorgan etc) estão fortemente presentes no capital das grandes petroleiras e também na Petrobrás, podemos entender que , do ponto de vista deles, seria muito mais interessante ver todo o acervo da Petrobrás (reservas, refinarias do sudeste e tecnologia) transferidos para as petroleiras internacionais.
Existem dois aspectos fundamentais: as petroleiras internacionais conseguem captar recursos a custo quase zero, o que não acontece com a Petrobrás, tornando os investimentos muito mais baratos. Por outro lado as petroleiras internacionais tem muito mais liberdade na distribuição de dividendos (mesmo que de forma suicida) do que a estatal brasileira, sendo mais atraente aos investidores.
Hoje, o ambiente no governo e na administração da Petrobrás é plenamente favorável à atuação dos grandes investidores.
Países como a Grã-Bretanha e a Alemanha criaram fundos bilionários para defender suas empresas da ação pedratória destes investidores. No Japão as leis societárias não permitem a entrada destes investidores. No Brasil eles sequer são percebidos, e atuam livremente com lobistas agindo no governo e no Congresso .
Sabendo que o Secretário Especial de Desestatização, Salim Matar, já falou que a Petrobrás precisa ser privatizada sem alarde, sem que o povo perceba, e o presidente da empresa, Castello Branco disse que sonha com a privatização da companhia, não é difícil imaginar para onde estamos indo.
E O QUE OCORRERIA COM A PETROBRÁS ?
A Petrobrás encerraria suas atividades. Seria fechada. Sairia da vida para entrar na história.
E O QUE OCORRERIA COM O BRASIL ?
O Brasil continuaria a ser colônia, como desejam os administradores financistas da Petrobras, a mídia hegemônica despudorada e nossa elite espúria.
Fonte Brasil247 – Cláudio da Costa Oliveira Economista aposentado da Petrobras