A velhice pode ser vista com novos olhos por meio dos avanços nas cirurgias oculares

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No quarto episódio do podEnvelhecer, o oftalmologista Durval M. Carvalho Júnior fala sobre as evoluções da cirurgia de catarata, muitas vezes marcada como o primeiro sinal de envelhecimento

“Quando você opera um paciente idoso e devolve a visão que ele tinha há 30 anos, há uma transformação gigantesca na mente desse paciente.” A afirmação é do oftalmologista Durval M. Carvalho Júnior, especialista em catarata, que ressalta a revolução pela qual esse tipo de cirurgia passou nos últimos anos. O convidado do quarto episódio do podEnvelhecer conta que a técnica era arcaica e sem precisão de como iria ficar exatamente, e o procedimento só era feito para uma catarata mais avançada, quando o paciente tinha 70 anos. Isso mudou. “A cirurgia hoje não é só para limpar a lente, ela resolve tudo, você consegue acertar o grau junto.”

Às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, Durval ressaltou que pessoas mais jovens, com indicação, têm se submetido ao procedimento, muitas vezes, ao verem os pais, com 80 anos, enxergando de perto e de longe sem óculos.

Confira parte da entrevista.

    Como se dá o processo de envelhecimento da visão?

    A catarata é um sinal de envelhecimento do cristalino, que é uma lente que temos dentro do olho, fica atrás da íris. Geralmente, não é perceptível, a não ser que a catarata esteja muito avançada. O cristalino tem uma função muito importante na nossa visão, que é de acomodação, de trazer o foco para perto. Então, o primeiro sinal de que o cristalino está meio que envelhecendo é essa perda da capacidade de focar para perto, a presbiopia.

    Considerando que esses primeiros sinais surgem na meia-idade, há cuidados que podem ser tomados para que isso não progrida e vire uma catarata?

    Essa modificação do cristalino tem muito a ver com o metabolismo, mas não há receita para evitar isso. Muita gente tem estudado a respeito dos antioxidantes, mas o que ocorre é o contrário do que a gente pensava, que o músculo ia envelhecendo e atrofiando. O que acontece é que o cristalino vai aumentando de tamanho e vai perdendo essa flexibilidade. É como se fosse um braço que não conseguisse mais abrir tanto. Depois, em seguida, ele continua se degenerando e, lá por volta dos 60 anos, vai mudando a coloração. Ele começa a ficar mais opaco. Já nessa fase, não é só questão de grau de óculos, é questão da visão mesmo. Mesmo com a correção dos óculos, não se consegue ter uma visão perfeita. É quando a condição recebe esse apelido carinhoso de catarata.

    Nessa etapa, a opção de intervenção é apenas a cirurgia?

    Antigamente, só se reservava a cirurgia para uma catarata mais avançada, em que iria fazer realmente uma diferença, porque não tinha tanta precisão e previsão de como iria ficar exatamente. Por isso, só se operava pacientes de 70 anos ou mais. Isso mudou. Surgiu uma nova tecnologia: a facoemulsificação, que revolucionou a cirurgia, porque o olho ficou mais fechadinho, reduziu o risco cirúrgico, de hemorragia, de infecção. A cirurgia de uma hora, uma hora e meia, reduziu para menos de 15 minutos. E não precisa de pontos. 

    E dá para fazer? Há alguma contra-indicação de cirurgia de catarata em pessoas mais novas?

    A cirurgia hoje não é só para limpar a lente, ela resolve tudo, você consegue acertar o grau junto. Isso causou uma certa estranheza, porque os filhos vinham trazer os pais com 80 anos para operar a catarata e eles saiam da cirurgia enxergando para longe e para perto. Aí, os filhos com óculos na fase bem inicial passaram a dizer “estou precisando disso agora. Dá para fazer?” Logicamente, a cirurgia não é para todos; às vezes pode ser a cirurgia, mas não aquela lente especial. A expertise do médico oftalmologista, principalmente do cirurgião de catarata, o permite fazer a programação correta, tanto da técnica cirúrgica como da lente intraocular.

    Há uma variedade grande de lentes no mercado. Como fazer a escolha?

    A primeira coisa é que o material evoluiu bastante, é um material que o corpo absorve e aceita bem. A questão do foco é outro grande avanço. A lente veio evoluindo e temos hoje lentes tóricas, que corrigem o astigmatismo. E, em seguida, começaram também a evoluir em relação à quantidade de focos. Em vez de um, a gente começou a ter dois. Agora, temos a trifocal, em que acrescentaram o foco intermediário, que é uma distância que a gente usa muito, para usar o computador, por exemplo. 

    Mesmo com toda essa evolução, a gente ainda se surpreende com casos de pessoas que ficam cegas, principalmente em mutirões  de catarata. Quais os sinais de alerta de que a cirurgia pode ter dado problema? 

    Não é porque a cirurgia ficou mais compacta, em um tempo mais reduzido, que deixou de seguir regras. Há regras muito bem estabelecidas, que funcionam muito bem. Quando você faz a coisa correta, com esterilização, no tempo devido, o uso dos materiais corretamente, é muito raro ter problemas assim. A mensagem para quem tiver catarata é procurar um serviço que tenha esses bons modos, que siga as regras corretamente.

    Tem sido muito estudada a relação da perda da audição com demências, como o Alzheimer. Isso se repete em relação à visão?

    No exame pré-operatório da catarata, a gente consegue detectar outras doenças, e um dos exames é avaliar o nervo óptico. Ele é, vamos dizer, o cabo que conecta a câmera ao computador. No caso, conecta o olho ao cérebro. É uma extensão do cérebro. Então, a gente, às vezes, consegue detectar uma palidez do nervo óptico, quando tem alguma relação com o sistema nervoso central. Muitas vezes, isso é motivo para a gente dar diagnóstico, até de tumores cerebrais

    E quais são os sinais do dia a dia de que é preciso fazer essa cirurgia?

    Além do borramento da visão, há sinais nas atividades de rotina. O paciente começa a perceber que dirigia mais fácil e passou a ter uma certa dificuldade para estacionar, que está perdendo detalhes de placas. Começa a trocar o óculos, mas não melhora a visão. Em casos mais avançados, o grau começa a mudar muito. E, às vezes, é assintomático, o que acontece muito, porque a catarata vai pacificando aos pouquinhos, e a pessoa não percebe, vai acostumando com isso. 

    E nesses exames de rotina também é possível detectar uma propensão à catarata? 

    Muitas doenças, não só a questão da catarata, são somente diagnosticadas pelo exame oftalmológico. Então, um aviso: cuidado quando você for examinado somente para ver o grau. Você pode estar perdendo ali a grande chance de diagnosticar alguma doença que esteja adormecida. 

    Toda essa tecnologia deixou o tratamento mais acessível?

    Infelizmente, a gente ainda é refém da tecnologia internacional. E, quando vem importada, acaba realmente repercutindo no custo. Mas, assim, tem melhorado. Mesmo os que são oferecidos de forma gratuita pelo SUS tem uma tecnologia melhor. 

    Fonte https://www.correiobraziliense.com.br/

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