Por Cláudio Oliveira
- INTRODUÇÃO
O caminhoneiro autônomo brasileiro é antes e tudo um empreendedor muito aventureiro que hoje luta para manter sua liberdade num ambiente que exige submissão e obediência.
Na maioria das vezes abraçaram a profissão por admiração e influência de parentes (pais, tios, avós etc).
Viajando por todos os rincões do país, conhecendo as diversas culturas existentes, sempre conversando com pessoas diferentes nas industrias nas fazendas nos restaurantes etc. O caminhoneiro consciente ou inconscientemente, sintetiza a opinião do povo brasileiro.
Consequência da característica de sua atividade o caminhoneiro tem uma enorme capacidade de divulgar informações ao povo brasileiro. Mesmo tendo um linguajar próprio o caminhoneiro conhece e fala a língua do povo nas diversas regiões.
Na comunicação com a própria categoria o caminhoneiro desenvolveu um vocabulário específico em parte baseado na forma de conversação dos antigos rádio amadores e em parte desenvolvida por eles mesmos.
Alguns exemplos do vocabulário dos caminhoneiros que poucos conhecem :
Cristal = esposa
Carvão = marido
Caixa de abelha = televisão
Geladeira deitada = caminhão frigorífico
Barracão de zinco = caminhão baú
Barriga de aço = caminhão tanque
QST = comunicado de interesse geral
QTH = casa, residência
1.a = região do Rio de Janeiro e Espiríto Santo
9.a = região de Goiás, Mato Grosso, Ilhas oceânicas Tem uma vida solitária passando muitos dias e até meses longe de casa, muitas vezes tem necessidade até de preparar seu próprio alimento.
Entre suas criações culinárias talvez o mais famoso seja o conhecido arroz carreteiro que surgiu no Rio Grande do Sul com o transporte de mercadorias em carroças puxadas por bois (carreteiros). As sobras de churrasco eram picadas e misturadas no arroz para cozimento. O alimento assim preparado se conservava por dias nas longas jornadas.
Hoje o arroz carreteiro foi incorporado à culinária brasileira e é também conhecido com “maria isabel” nas regiões nordeste e cento-oeste onde é preparado com carne de sol.
Segue uma receita moderna do arroz carreteiro :
INGREDIENTES
- 2 xícaras (chá) de arroz
- 4 xícaras (chá) de água
- 100 g de carne-seca dessalgada e desfiada
- 250 g linguiça calabresa aperitivo
- 70 g de bacon em cubos
- 2 colheres (sopa) de óleo
- ½ cebola
- 2 dentes de alho
- 2 folhas de louro
- ½ xícara (chá) de salsinha fresca
- pimenta-do-reino moída na hora a gosto
- 1 limão (opcional)
MODO DE PREPARO
- Leve uma chaleira com um pouco mais de 4 xícaras (chá) de água ao fogo baixo. Descasque e fatie meia cebola em meias-luas finas. Descasque e pique fino os dentes de o alho. Corte a linguiça em 3 pedaços na diagonal.
- Numa panela grande, aqueça o óleo em fogo médio. Doure o bacon e a linguiça calabresa por 5 minutos, mexendo de vez em quando.
- Junte a cebola e refogue por 2 minutos, mexendo sempre, até ficar transparente. Acrescente o alho e misture por apenas mais 1 minuto.
- Junte a carne seca, o arroz e as folhas de louro. Mexa bem, por cerca de 1 minuto.
- Antes de começar a grudar no fundo da panela, meça 4 xícaras (chá) de água fervente e regue o arroz. Misture bem, raspando o fundo com a colher de pau e tampe parcialmente a panela.
- Deixe cozinhar até que o arroz absorva toda a água, por cerca de 20 minutos – para verificar se a água secou, fure o arroz com um garfo para ver fundo da panela; se ainda estiver molhado, deixe cozinhar mais um pouco.
- Desligue o fogo e mantenha a panela tampada por 5 minutos para que o arroz termine de cozinhar no próprio vapor. Enquanto isso, lave, seque e pique fino a salsinha.
- Sirva a seguir com salsinha picada e pimenta-do-reino moída na hora a gosto. Fica ótimo com gotas de limão.
O caminhoneiro, assim como a maioria do povo brasileiro, é um patriota nacionalista defensor intransigente da história e da cultura de nosso país. Precisam ser respeitados e preservados como parte fundamental de nossa história.
Hoje estão sob ameaças mas não podemos permitir que sejam covardemente destruídos sem a devida e respeitosa consideração.
- HISTORIA DO TRANSPORTE DE CARGAS NO BRASIL
O transporte de cargas é fator fundamental para o desenvolvimento das atividades econômicas em todos os seus níveis.
Com a existência de montanhas ao longo de seu litoral, além da densa floresta e da inexistência de rios navegáveis, a população brasileira, durante a colônia, se concentrou no litoral, onde foram criadas as principais cidades do país.
Neste período o único meio de transporte de cargas era o de navios de cabotagem.
Não existiam estradas e muito menos pontes para transpor os caudalosos rios.
A primeira estrada de ferro brasileira foi construída em 1854 por Irineu Evangelista de Souza (Barão de Mauá) na região de Magé no Rio de Janeiro. Tinha 14,5 km de extensão.
Por muito tempo o transporte de cargas em longas distâncias no interior do país foi executado por tropeiros ( com mulas ) e carros de boi.
Sómente no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) com o desenvolvimento da indústria automobilística e a construção de estradas importantes, que o transporte rodoviário ganhou força.
- DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL BRASILEIRO
Durante o período colonial Portugal proibia a instalação de industrias no Brasil cuja economia era baseada na monocultura (cultura de um único produto).
No inicio do século XX a economia brasileira estava baseada na monocultura do café. Grandes fortunas foram feitas com esta atividade.
A crise econômica mundial de 1929, com a quebra da bolsa de Nova Iorque, mostrou a fragilidade de um país dependente de sua agricultura, e o que é pior, de um único produto.
Foi nos governos de Getúlio Vargas à partir de 1930, que as coisas começaram a mudar.
De 1930 a 1980 o Brasil foi o país que mais se desenvolveu industrialmente no mundo. Em 1980 a indústria brasileira produzia mais do que as industrias da China e da Coreia somadas.
A atuação de três grandes presidentes foi a base desta realização : Getúlio Vargas (1930/1945 e 1951/1954), Juscelino Kubitschek (1955/1959) e Ernesto Geisel (1974/1979 )
Getúlio criou estrutura para o desenvolvimento industrial brasileiro.
Implantou as leis trabalhistas, salário mínimo, semana de trabalho de 48 horas, carteira de trabalho, férias remuneradas, que não existiam.
Criou empresas fundamentais para potencializar as riquezas nacionais : Companhia Vale do Rio Doce – CVRD, Companhia Siderurgica Nacional – CSN, Companhia Hidroeletrica do Vale do São Francisco – CHESF, Petroleo Brasileiro – Petrobrás.
Criou autarquias para acompanhamento e promoção do desenvolvimento : Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social -BNDES.
NÃO EXISTE EM NOSSA HISTÓRIA QUEM TENHA FEITO MAIS PELO PAÍS
O desenvolvimento do setor automobilístico e da construção civil marcaram o governo de Juscelino.
Além da cidade de Brasilia construiu as rodovias Fernão Dias, Regis Bittencourt e BR-364, integrando as regiões do norte do país.
O transporte rodoviário de cargas cresceu extraordinariamente neste período, com ele a atividade do caminhoneiro autônomo.
Foi no governo de Juscelino também (1959) que o salario mínimo registrou o seu maior poder compra da história
A primeira empresa a fabricar caminhões no Brasil foi a estatal Fabrica Nacional de Motores – FNM, implantada originalmente para fabricação de motores náuticos e de aviação, lançou em 1949 em sua fábrica de Xerem, no Rio de Janeiro, o modelo D-7 300, com motor a diesel e capacidade para 7,5 toneladas.
Foi no governo de Juscelino que a FNM alcançou o seu ápice com o lançamento em 1958 do modelo D-11.000, com motor a diesel de seis cilindros, todo em alumínio.
Em 1960 a FNM lançou o automóvel de luxo sedan FNM-JK.
Sedan FNM-JK
Em 1968, durante o governo militar, a fábrica foi privatizada para a Alfa Romeo.
Ainda no governo Costa e Silva ( 1967/1969 ) , como presidente da Petrobrás, reformou e construiu refinarias bem como iniciou a exploração de petróleo na costa brasileia.
Como presidente construiu a maior parte da maior hidroelétrica brasileira a Usina de Itaipú.
Iniciou o processo de redemocratização extinguindo o AI-5.
- AMEAÇAS À CATEGORIA NA ATUALIDADE
As crises econômicas e o baixo crescimento atingem os caminhoneiros antes de qualquer outra categoria. A redução do volume de cargas com a manutenção do numero de equipamentos (caminhões) para transporte, reduz proporcionalmente a capacidade de negociação satisfatória do valor dos fretes.
Com a paralização de 2018 autoridades brasileiras perceberam o impacto na economia causado pela suspensão do transporte rodoviário de cargas.
Objetivando reduzir a dependência brasileira do transporte rodoviário bem como reduzir custos de transporte, projetos para o desenvolvimento de outros modais de transporte (hídrico, ferroviário e cabotagem), que há décadas estavam nas gavetas, voltaram a ser estudados com urgência.
O caminhoneiro não luta contra a modernização do país, pelo contrário. Mas pode e tem o dever de lutar por seus interesses de forma ordeira e dentro das leis.
O desenvolvimento de novos modais de transporte deve respeitar os modelos existentes de forma a não criar impactos sociais relevantes. Por outro lado não é concebível a concessão de incentivos que torne desigual a competitividade entre os diversos modais.
Assim os combustíveis fornecidos devem ter preços equivalentes entre um modal e outro.
Ocorre que o diesel fornecido aos transportadores rodoviários de carga, tem como base de calculo o Preço de Paridade de Importação – PPI, ao passo que o preço de óleo combustível fornecido aos navios utiliza de outros paramentros tornando-os mais baratos.
Alem disso se para a frota de cabotagem é permitida a compra de navios no exterior, por que aos caminhoneiros não é permitido importar veículos sem impostos ?
Outro aspecto que deve ser muito bem analisado é o da renovação da frota.
Durante décadas de trabalho o caminhoneiro autônomo sempre foi o mais sacrificado não conseguindo obter recursos para o sustento da família e a renovação de veículo.
A prova disto é que a frota dos caminhoneiros autônomos hoje, em sua grande maioria, supera os 20 anos de uso. Demonstrando tratar-se de um problema geral e não um caso isolado.
Pretender-se estabelecer limites máximos de vida para os veículos em uso não é plausível sem a apresentação de uma solução para a categoria. Caso contrário seria a condenação ao desemprego de uma grande massa de pais de família cuja faixa etária não permite o início de uma nova atividade.
- CONCLUSÃO
Ao longo das últimas décadas o caminhoneiro autônomo tem prestado importante de inestimável serviço ao desenvolvimento da nação brasileira.
Hoje, no entanto, considerando as circunstancias, sofre fortes ameaças da própria estrutura que utilizou seus serviços e incentivou seu crescimento.
Querem descartar o caminhoneiro autônomo sem sequer avaliar as consequências deste feito. Soluções para os problemas certamente existem e serão encontradas desde que colocados abertamente em discussão