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A escandalosa abertura de capital da BR Distribuidora

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25 Março de 2018 Escrito por  Cláudio da Costa Oliveira

claudioRecebemos na última semana ( via AEPET ), email de um petroleiro preocupado com a situação da BR Distribuidora.

Ele relatou : “Em resumo a BR teve um lucro de R$ 1,15 bilhão (2017), e foi distribuído 95% deste lucro !!! Ou seja não sobrou nada para investimentos em Capex !!! Desta forma a BR deve “destruir valor”, pois em um mercado crescente e concorrido , no qual a Ipiranga investiu em Capex R$ 1,06 bilhões em 2017 a BR provavelmente irá perder mais participação de mercado e rentabilidade. A BR investiu em 2017 apenas R$ 300 milhões em Capex. A atual administração da BR, Conselho de Administração e Diretoria, está “destruindo valor” da BR e colocando em risco a sobrevivência da empresa”.

O petroleiro citou ainda artigo de Luiz Gonzaga Beluzzo de 2014 “Os caminhos da estagnação econômica” de onde extraímos a seguinte frase : “Nos anos 60, tempos dos oligopólios de Berle e Means e dos gerentes obcecados com o crescimento da empresa no longo prazo, a cada US$ 12 que gastos com compra de máquinas ou construção de novas fábricas, apenas US$ 1 era gasto com dividendos pagos aos acionistas. Nas décadas seguintes a proporção começou a se inverter : mais dividendos mais juros sobre capital próprio e menos investimentos na fábrica e na contratação de trabalhadores” concluindo : “O desfrute acionário abusivo dos resultados do capital “

Admiramos a atitude de pessoas como este petroleiro que mostra preocupação com o destino de nossas empresas e de nosso país. Sua informação chegou em boa hora, num momento em que ainda estávamos digerindo os resultados da própria Petrobras e levaríamos algum tempo para chegar na BR Distribuidora. Serve para consolidarmos nosso entendimento das intenções daqueles que atualmente comandam as estatais brasileiras.

O objetivo claro de Pedro Parente era privatizar a Br Distribuidora. O Bradesco chegou a se mostrar interessado no negócio.

Em 1997 quando foi anunciada a intenção de privatização da então Vale do Rio Doce houve muita reação popular. No caso da BR não vimos este tipo de reação . Será que o povo brasileiro mudou? Acreditamos que não. O que ocorre é que poucos sabem que a BR é a segunda maior empresa brasileira (Revista Exame, Melhores e Maiores julho/207) superada apenas pela própria Petrobras. A Vale está classificada como quinta maior empresa brasileira, mas tem uma imagem muito mais marcante junto ao povo brasileiro do que a BR.

O interesse do Bradesco no negócio seria para exercer a função de intermediário. Comprar a preço de banana para logo revender para os verdadeiros interessados. Este papel foi exercido por muitos bancos durante as privatizações nos governos Collor e FHC.

Mas quais seriam os verdadeiros interessados ? A Ipiranga, terceira maior empresa brasileira e a Raizen ( união da Shell com a Cosan ), quarta maior empresa brasileira.

Mas Pedro Parente não encontrou respaldo político para a privatização e mudou os planos, decidindo pela abertura do capital da empresa, tendo sido autorizado a vender entre 25% a 40% das ações da Petrobras na BR.
Na preparação da venda e para tornar o negócio mais atrativo para o mercado, a Petrobras aportou R$ 6,3 bilhões na BR.

Aproveitando estes recursos a BR reduziu seu endividamento, fazendo a liquidação antecipada do total dos saldos das Notas de Credito à Exportação, contratadas junto ao Banco do Brasil e o próprio Bradesco, no montante de R$ 7,7 bilhões.
Em dezembro de 2017, a BR Distribuidora , considerada a “joia da coroa” do plano de desinvestimentos da Petrobras, teve seu capital aberto num IPO ( do inglês : oferta pública inicial ) no qual foram vendidos 27,85% das ações pertencentes à Petrobras, sendo 60% da venda para investidores estrangeiros.

A Petrobras estabeleceu o preço de venda da BR Distribuidora na faixa entre 15 a 19 reais por ação. Como o negócio foi fechado no piso mínimo (15 reais) a Petrobras arrecadou com a venda apenas cerca de R$ 5 bilhões.

Em 2017 a BR Distribuidora registrou um lucro líquido de R$ 1,15 bilhões, contra um prejuízo de R$ 315 milhões em 2016. Mas esta melhora não foi fruto de ganhos operacionais ( redução de custos, aumento da margem etc.) e sim devido ao fato de que em 2016 ocorreram gastos excepcionais como Provisões e Processos Jurídicos transitados em julgado ( R$ 1,08 bilhões ) e gastos com PIDV ( R$ 434 milhões ).

Neste cenário a administração da empresa decidiu distribuir dividendos de maneira generosa e absurda no montante de R$ 1,09 bilhões ( 95% do lucro)

A administração da BR alega ser uma distribuição justificável tendo em vista que o Fluxo da Caixa Livre da empresa alcançou R$ 984 milhões no exercicio ( praticamente o mesmo valor distribuído ).

Ocorre que Fluxo de Caixa Livre é o recurso que sobra não só para pagar dividendos mas também para cobrir o serviço da dívida ( juros e amortizações ). Se ele é todo utilizado no pagamento de dividendos a dívida terá de ser “rolada”. Significa dizer que isto é o mesmo que pegar empréstimo para pagar dividendos ou pagar dividendos com a descapitalização da empresa. É uma política financeira suicida.

Empresas como Exxon e Chevron muitas vezes fazem isto, para atender exigências do guloso mercado de capitais americano, mas não podemos nos esquecer que lá (nos EUA) eles podem captar empréstimos com alíquotas de juros quase zero.

Esta distribuição de dividendos beneficia principalmente aqueles que compraram ações da BR no IPO, e que já haviam sido beneficiados com a redução da divida da empresa em R$ 7,7 bilhões, quase tudo coberto com o aporte da Petrobras.

Os dividendos vão ser pagos no final de julho/2018 com base na composição acionária de 1º de fevereiro de 2018.

Os novos acionistas vão receber em suas contas, um presente de 6% sobre o que acabaram de investir.

Aparentemente os atuais administradores da Petrobras caminham no mesmo sentido.

A Agencia Estado noticiou que em recente reunião em São Paulo, a Gerente Executiva de Relação com Investidores da Petrobras, Isabela Rocha, informou que com o acordo feito com os investidores americanos (Class Action) a expectativa é de que os resultados em 2018 sejam bem melhores (do que em 2017), “sem impactos extraordinários” o que motivou o “Conselho de Administração a pedir estudos que – se aprovados – deverão levar a uma mudança na política de dividendos, para que possa haver pagamentos trimestrais”.

Ou seja, a Petrobras pretende fazer antecipações trimestrais de dividendos, como fazem outras grandes petroleiras, na certeza de que no final do exercício o resultado será positivo pois não existirão mais “gastos excepcionais”
No entanto acreditamos que o próprio acordo feito com os investidores americanos, a nosso ver precipitado, vai causar novas demandas.

Por outro lado a Petrobras constitui provisões (Relatorio Financeiro 2017 – RMF – pag 105) “em montante suficiente para cobrir as perdas consideradas prováveis e para as quais uma estimativa confiável possa ser realizada”. No final de 2017 estas provisões somavam R$ 23,24 bilhões. Como o valor é estimado podem vir a ocorrer gastos superiores ao previsto.

Existem também “processos judiciais não provisionados, que constituem obrigações presentes cujas saídas de recursos não é provável, e para as quais não é possível fazer estimativas confiáveis”. Estes processos somam R$ 192,90 bilhões. O risco aqui é muito elevado.

Isto sem que tenhamos falado no que é essencial : afinal a quem deve servir a Petrobras ao Brasil ou ao Mercado Financeiro ? Já escrevemos alguns artigos sobre este tema.

Em publicações mais recentes recomendamos a leitura do artigo de Andre Araujo “A raiz do golpe contra a Petrobras” https://jornalggn.com.br/noticia/a-raiz-do-golpe-contra-a-petrobras-por-andre-araujo

Mais recentemente ainda o excelente artigo de Gilberto Bercovici e Felipe Coutinho “Parceria estratégica é o novo codinome de privatização” do qual tomamos a liberdade de extrair o seguinte parágrafo :

“O objetivo essencial das sociedades de economia mista não é a obtenção de lucro, mas a implementação de políticas públicas. A esfera de atuação das sociedades de economia mista é a dos objetivos da política econômica, da estruturação de finalidades maiores, cuja instituição e funcionamento ultrapassam a racionalidade de um único ator individual (como a própria sociedade e seus acionistas).”

http://www.aepet.org.br/w3/index.php/artigos/artigos-da-aepet-e-colaboradores/item/1518-parceria-estrategica-e-novo-codinome-da-privatizacao


Não deixem de ler.

Cláudio da Costa Oliveira

Economista aposentado da Petrobrás

AEPET FONTE

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