Relatório da gestora britânica Janus Henderson elenca também as 10 maiores empresas pagadoras de proventos
Na espera da sua política de investimentos, o cenário para Petrobras (PETR3; PETR4) não parece trazer boas novidades. Pelo segundo trimestre consecutivo, a petrolífera lidera os cortes de dividendos em todo o planeta, segundo a 40ª edição do Índice Global de Dividendos da gestora britânica Janus Henderson, divulgada nesta quarta-feira (15).
Os investidores sentiram mais uma vez no bolso os impactos das mudanças de perfil da companhia, que está menos interessada em remunerar os seus acionistas. Desta vez o corte foi da ordem de US$ 9,6 bilhões na comparação anual. No terceiro trimestre de 2022, a Petrobras havia remunerado os seus investidores com US$ 12,3 bilhões em dividendos, enquanto no mesmo período deste ano o montante recuou para US$ 2,8 bilhões.
A Petrobras que figurava no ano passado como a terceira maior pagadora de dividendos do mundo no terceiro trimestre entrou em queda livre para a 19ª posição.
A petroleira brasileira não foi, porém, a única a desacelerar no terceiro trimestre, revelam os dados da Janus Henderson, gestora que tem aproximadamente US$ 308,3 bilhões em ativos sob gestão. Outra que recuou foi a mineradora australiana BHP. A companhia cortou seus proventos de US$ 12,659 bilhões para US$ 5,791 bilhões ano contra ano.
Segundo a Janus Henderson, foi graças a Petrobras e BHP que os dividendos globais desaceleraram no trimestre, apresentando uma diminuição nominal de 0,9%, atingindo US$ 421,9 bilhões no período. Em relação ao crescimento subjacente, que desconsidera dividendos extraordinários, câmbio e outros fatores técnicos, os proventos globais na verdade teriam apresentado um crescimento de 0,3% no terceiro trimestre.
No relatório, que analisa trimestralmente as 1.200 empresas do mundo por capitalização de mercado, a Janus Henderson informa que, sem Petrobras e BHP, o crescimento subjacente teria sido de 5,3%. Estas companhias representaram juntas os maiores cortes de dividendos do mundo no período.
As melhores pagadoras
A China dominou o ranking de maiores pagadoras de dividendos no terceiro trimestre com empresas como o China Construction Bank Corp liderando com US$ 12,989 bilhões, seguido pela Petrochina e China Mobile Limited, que pagaram US$ 6,567 e US$ 6.366 bilhões em proventos, respectivamente.
A predominância de empresas chinesas nesse trimestre resulta de um padrão sazonal, explicado pela Janus Henderson. O terceiro trimestre marca um pico sazonal, refletindo os dividendos anunciados com base nos lucros de 2022. Na China, os pagamentos aumentaram 7,8% em termos subjacentes, alcançando um recorde de US$ 38,2 bilhões.
A Petrochina teve um impacto significativo ao mais que dobrar seus dividendos em relação ao ano anterior, atingindo US$ 6,5 bilhões, e se tornando a segunda maior pagadora de dividendos do mundo no trimestre. Isso ajudou a mitigar a fragilidade observada nos bancos e empresas imobiliárias chinesas.
Em Hong Kong, o crescimento foi contido devido ao setor imobiliário, com cada empresa reduzindo ou mantendo estáveis seus dividendos.
Globalmente, além da China, os Estados Unidos registraram um crescimento de 4,5% nos dividendos, considerado um aumento saudável. Aproximadamente 98% das empresas americanas aumentaram ou mantiveram seus pagamentos estáveis. Na Europa o padrão de crescimento se manteve forte, contrabalançando a fraqueza observada no Brasil.
Confira as dez maiores pagadoras de dividendos do mundo:
- China Construction Bank Corp (US$ 12,989 bilhões)
- PetroChina (US$ 6,567 bilhões)
- China Mobile Limited (US$ 6,366 bilhões)
- BHP Group Limited (US$ 5,791 bilhões)
- Microsoft Corporation (US$ 5,052 bilhões)
- Evergreen Marine Corporation -Taiwan (US$ 4,741 bilhões)
- Cnooc (US$ 4,279 bilhões)
- Media Tek (US$ 3,904 bilhões)
- Apple Inc (US$ 3,752 bilhões)
- Glencore plc (US$ 3,706 bilhões)
Brasileiras e emergentes no ranking
O Brasil sentiu o baque: os dividendos despencaram 67,1%, totalizando R$ 5,8 bilhões no terceiro trimestre de 2023, contra os US$ 16,4 bilhões registrados no mesmo período em 2022, impulsionados principalmente pelos cortes da Petrobras. A Vale (VALE3) também contribuiu para esse cenário ao pagar US$ 1,764 bilhão em 2023, abaixo dos US$ 3,261 bilhões do ano passado.
Apesar disso, algumas companhias brasileiras como Bradesco (BBDC4) e Weg (WEGE3) se destacaram com aumentos saudáveis em seus dividendos, o que ajudou a atenuar as perdas causadas pelas commodities.
O Bradesco elevou seus pagamentos de US$ 219 milhões para US$ 251 milhões se comparado o terceiro trimestre de 2022 com o mesmo período neste ano, compensando as perdas de alguns dividendos de commodities.
Outras empresas brasileiras presentes no ranking do terceiro trimestre são: Banco do Brasil (BBAS3), distribuindo US$ 678 milhões em dividendos, a B3 (B3SA3) com US$ 138 milhões e a Weg, com US$ 137 milhões em pagamentos de proventos.
O que esperar?
O futuro dos dividendos globais ainda é positivo apesar da queda vista no terceiro trimestre. Projeções da Janus Henderson esperam por um crescimento nominal de 4,4% em relação a 2022, para US$1,63 trilhão, com um leve ajuste diante dos US$ 1,64 trilhão antes projetados.
Já sobre o crescimento subjacente, a expectativa da gestora é de uma aceleração entre 5% a 5,3%. Ben Lofthouse, da Janus Henderson, destaca que apesar dos desafios em setores como commodities, os dividendos continuam fortes em várias regiões e setores, com vários países caminhando para recordes tais como Estados Unidos, França, Canadá, Suíça e China, o que deve potencializar a concretização das projeções.
Ele reforça que a queda no terceiro trimestre de 2023 não é motivo de preocupação, dado que os dividendos costumam ser menos voláteis que os lucros e que é perceptível que nos últimos meses estes se tornaram menos dependentes de eventos pontuais e taxas de câmbio.
Para Lofthouse, os números mostram que uma carteira global diversificada pode contrabalancear os dividendos em declínio. “O crescimento dos dividendos das empresas continua forte em uma ampla gama de setores e regiões, com exceção das commodities, mineração e química”, pontua.
Fonte Estaão