Com baixo endividamento e forte geração de caixa, a Petrobras deve lançar mão este ano de uma prática comum a outras petroleiras, porém inédita para a estatal brasileira: a recompra de ações. A estatal deve manter o pagamento de dividendos referentes ao segundo trimestre com periodicidade trimestral e na casa dos dois dígitos. Já em 2024, com o Plano Estratégico até 2028 divulgado, mais investimentos estão previstos, o que deve reduzir o ganho dos acionistas, segundo apurou o Broadcast. O anúncio será feito junto com a divulgação do resultado financeiro do segundo trimestre, no dia 3 de agosto.
Fontes com acesso à discussão dos dividendos disseram ao Broadcast que o investidor vai ficar “satisfeito” com a próxima distribuição dos proventos, que pode não repetir recordes, mas não vai descer perto do mínimo legal de 25% do Lucro Líquido Ajustado previsto na Lei das Estatais.
Já a recompra de ações alinha a Petrobras a outras empresas globais como BP, Chevron, ExxonMobil, Shell e TotalEnergies. A medida, utilizada pelas majors em tempos de preço do petróleo em alta, já foi tentado pela Petrobras no passado. Em 2006, a estatal anunciou um programa de recompra, mas nunca foi executado.
Passados seis meses da nova gestão, os receios iniciais do mercado foram substituídos pela percepção que não haverá um movimento abrupto da companhia, apesar do abandono da política de preços de paridade de importação, suspensão dos desinvestimentos e a sinalização de que pretende voltar a investir, inclusive na África. Mas isso só poderá ocorrer após a publicação do Plano Estratégico 2024-2028, previsto para novembro, e onde devem ser definidos os próximos investimentos da estatal.
Em entrevista ao Broadcast, o presidente da companhia, Jean Paul Prates, afirmou que a mudança no pagamento dos dividendos seria feita de forma gradual, o que afastou o risco de suspensão ou redução drástica dos proventos.
“Provavelmente é uma coisa que vai recuando, mas que vai compensar de alguma outra forma”, disse em entrevista feita em meados de maio. Ele já deixou claro que a distribuição de dividendos não chegará ao mínimo previsto na Lei das estatais, de 25%, mas também não vai continuar no patamar de 60% atual.
Tanto Prates como outros executivos da companhia já deram sinais de que pretendem seguir o exemplo de outras petroleiras, que em média pagam 40% do lucro em dividendos. Para se ter um ideia, no ano passado a Petrobras pagou mais dividendos do que a Exxon, maior petroleira privada do mundo, e ficou próxima à também estatal Saudi Aramco, que produz cinco vezes mais do que a petroleira brasileira.
Para o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman, a única certeza no momento é de que os dividendos de 2023 serão maiores do que no ano que vem. A expectativa é de que ainda este mês a estatal divulgue o novo modelo, que deve desvincular a relação da política de dividendos da geração de caixa e migrar para algo ligado ao lucro líquido da companhia, segundo Arbetman. Hoje, os dividendos da petroleira são calculados pela diferença entre os fluxos de caixa e o capex realizado.
“Como o Brent (petróleo) está na faixa de US$ 70/80, e o breakeven da Petrobras é perto dos US$ 50, há bastante tempo está tendo uma geração de caixa forte, por isso acredito que eles vão tirar essa relação e migrar para um regime de competência”, avalia Arbetman.
O diretor Financeiro da Petrobras (BOV:PETR3) (BOV:PETR4), Sérgio Caetano Leite, disse ao Broadcast esta semana, que a estatal tem uma geração de caixa muito forte devido aos campos gigantes do pré-sal, por isso boa parte dos investimentos da companhia serão financiados por geração orgânica de caixa. “Capital parado é mais caro”, destacou Leite, sobre o apetite de investimentos da companhia após seis anos de desinvestimentos.
Também para o analista da Mirae Asset Pedro Galdi, este ano o acionista da Petrobras não deve sentir muita diferença em relação à gestão anterior, marcada pela farta distribuição de proventos. O especialista não crê em mudanças este ano, nem mesmo de percentual.
“Aguardo que a Petrobras siga o modelo anterior, com distribuição trimestral de dividendos”, disse Galdi ao Broadcast, apostando na manutenção da distribuição no mesmo patamar do primeiro trimestre do ano.
Em 2022, a Petrobras pagou quase R$ 200 bilhões em dividendos, sendo que cerca de R$ 60 bilhões foram destinados à União, controladora da companhia. Além do elevado preço do petróleo, maior do que deste ano, a empresa vendeu ativos e reduziu investimentos, que ficaram 17% abaixo do planejado para o exercício e no menor nível desde 2004. No primeiro trimestre de 2023, foram aprovados R$ 24,7 bilhões em dividendos, o que surpreendeu o mercado e, segundo analistas, tranquilizou os acionistas.
Em relatórios de grandes bancos como Santander e Goldman Sachs, as ações da Petrobras também foram elevadas para “compra”, um movimento baseado na percepção de que este ano a política de dividendos será mantida e que as mudanças promovidas pela nova gestão terão pouco impacto nos resultados financeiros.
Ao contrário do que se esperava inicialmente, devido às consequências de gestões petistas anteriores na estatal – principalmente a elevação do endividamento -, o mercado financeiro vem premiando a companhia na bolsa de valores desde o resultado do primeiro trimestre do ano. Os papéis preferenciais da estatal entraram em 2023 com valor abaixo dos R$ 20, e, aos poucos, foram conquistando a confiança dos investidores.
⇒ Proposta de recompra de ações ainda está sendo fechada pela diretoria da estatal e fará parte da rotina da estatal
A proposta de recompra de ações da Petrobras ainda está sendo fechada pela diretoria da estatal, mas segundo apurou o Broadcast, a prática será incorporada à gestão e não será um fato isolado. A previsão é de que a recompra passe a fazer parte da rotina da estatal, quando necessário, e vem sendo encarada como um processo de amadurecimento da empresa. O programa ainda precisa ser aprovado pelo Conselho de Administração da companhia, o que pode ocorrer no próximo dia 21.
A recompra é uma forma de valorizar as ações das empresas e vem sendo praticada por petroleiras, principalmente em países que taxam a distribuição de dividendos, um provento cada vez mais alto no setor por conta do preço do petróleo. Já lançaram mão da recompra similares da Petrobras como BP, Chevron, ExxonMobil, Shell e TotalEnergies.
No caso da estatal brasileira, como não há taxação de dividendo, a medida visa valorizar as ações e tirar o título de “maior pagadora de dividendos do mundo”, como ocorreu em 2022. No ano passado, a Petrobras pagou quase R$ 200 bilhões em dividendos, ou cerca de 60% do fluxo de caixa menos o capex do período de referência do provento.
Para este ano, a nova gestão pretende reduzir esse percentual para um valor próximo dos seus pares – em média 40% do lucro -, deixando de se basear no fluxo livre de caixa, um valor também cada vez mais alto por conta do preço do petróleo. A diferença poderá servir para recompra das ações, enquanto o novo plano de investimentos da companhia é estruturado.
“Uma estatal, mesmo com capital aberto, não pode ter o titulo de maior pagadora de dividendo da humanidade”, disse uma fonte que pediu anonimato.
Na avaliação da fonte, com a valorização das ações os acionistas também ganham, e a previsão é de que a recompra, inédita na história da Petrobras, entre para a rotina da empresa e passe a ser sistemática. Um programa similar foi lançado em 2006, mas não foi para frente.