A tempestade perfeita no mercado de combustíveis passou, avalia Wood Mackenzie
A invasão da Ucrânia pela Rússia, que fez disparar os preços do petróleo e dos combustíveis em meados de 2022, perdeu seus efeitos no mercado de combustíveis, com as margens de refino voltando às tendências de longo prazo, de acordo com a análise da Wood Mackenzie.
A expectativa é de margens abaixo das médias em 2024 e que a “lucratividade do refino será muito menor nos próximos trimestres”.
A análise é assinada por Simon Flowers, chairman e analista chefe, com os executivos e analistas Alan Gelder, Mark Williams e Sushant Gupta.
A tempestade perfeita
A invasão da Rússia à Ucrânia desencadeou a “tempestade perfeita”, na esteira da falta de investimento em novas refinarias e do fechamento de unidades mais antigas durante a pandemia. Deixou o setor de refino vulnerável a um choque de oferta.
As sanções impostas às negociações com a Rússia criaram uma expectativa de bloqueio ao petróleo e derivados russos, agravando o impacto nos preços, segundo os analistas.
No caso do Brasil, o resultado mostrou-se o oposto este ano: sem alinhamento com os países da União Européia e os Estados Unidos, em relação às sanções, o Brasil elevou a participação do diesel russo, mais barato, no suprimento externo.
Em abril, a Rússia superou os EUA como principal fornecedor brasileiro.
Margens de refino desequilibradas
As margens de refino subiram para quase 10 vezes a média de cinco anos. Indicador global da Wood Mackenzie atingiu US$ 25 por barril em junho de 2022.
Este ano, essa cesta de produtos recuou 70% em relação aos picos de 2022, em abril, chegando a cair abaixo da média histórica de cinco anos em alguns momentos.
O choque levou a “variações regionais significativas” das margens, a depender de estoques, acesso a matérias-primas, produtos e configurações de refinarias, destaca a consultoria.
“No Noroeste da Europa, o diesel/óleo combustível foi negociado a quase US$60/bbl acima do Brent, comparado com um ‘normal’ de US$16/bbl; enquanto os preços médios mensais da gasolina nos EUA ficaram quase US$40/bbl acima do Brent no verão de 2022, comparado com US$11/bbl antes da crise”.
Isto é, mais do que a disparada dos preços do petróleo cru, o momento foi marcado por um aumento ainda maior dos derivados, como gasolina e diesel.
Os refinadores dos EUA foram “máquinas de imprimir dinheiro” em 2022, contribuindo para os lucros recordes no downstream para empresas independentes e integradas, comparam os analistas.
“Em contraste, os preços altíssimos atingiram duramente o bolso dos consumidores e aumentaram a preocupação crescente dos governos com a inflação”.
Causas e efeitos da rápida queda nos preços
Para frente, a queda nas margens pode levar os refinadores com refinarias mais simples na Ásia e na Europa a cortar as taxas de utilização nos próximos meses, avalia a Wood Mackenzie.
Segundo a publicação, a queda dos preços dos produtos foi rápida por diversas razões: o banimento de supridores russos não se materializou; o inverno mais ameno no Hemisfério Norte e uma economia global fraca reduziu os preços do petróleo; e novas refinarias entraram em operação.
As exportações de petróleo da Rússia conseguiram encontrar compradores, especialmente na Turquia, Índia e China, que aproveitaram para importar petróleo russo com desconto.
A Rússia também encontrou mercado para seus produtos no Norte da África, Turquia, Oriente Médio e América Latina.
“No geral, os volumes de exportação russos permaneceram estáveis, apesar da imposição de sanções e proibições”.
Fonte EPBR