A cena é clássica (e às vezes até cômica): entrar no cômodo da casa e esquecer o que foi fazer ali. Ou olhar para alguém conhecido e travar no nome. Envelhecer costuma vir acompanhado de pequenos lapsos de memória —e tudo bem, até certo ponto.
Mas por que isso acontece? E dá para evitar?
A resposta é sim. A memória envelhece, mas também pode ser exercitada como um músculo —e, se bem cuidada, continua funcionando como uma cidade bem sinalizada, com trânsito fluido entre os bairros da linguagem, da atenção e das lembranças.
Com o envelhecimento, a velocidade de transmissão do impulso nervoso entre os neurônios diminui. Com isso, as habilidades cognitivas podem não ter a mesma eficiência de quando a pessoa era mais jovem.
O declínio começa a ser mais evidente por volta dos 50 anos e se intensifica depois dos 60. Mas a boa notícia é que nem todo mundo precisa passar por isso com intensidade. Quem mantém o cérebro ativo tende a postergar —ou até evitar— os esquecimentos.
Tipos de memória
Nosso cérebro tem estruturas muito organizadas. A memória, por exemplo, é dividida em de curto e longo prazo. Cada uma, por sua vez, tem várias categorias de organização.
A memória de curto prazo tem relação mais direta com a capacidade de atenção imediata, que é influenciada pela eficiência dos órgãos do sentido, como visão e audição. É ela que nos ajuda a memorizar a vaga onde deixamos o carro no estacionamento do shopping, o nome de alguém que acabamos de conhecer ou o resultado de um cálculo matemático feito mentalmente.
A memória de longo prazo é onde ficam guardados fatos e episódios de nossa vida (formatura da escola e da faculdade, casamento, nascimento de filhos, uma viagem etc.), aprendizados como dirigir, andar de bicicleta e escrever, além de dados e conhecimentos aprendidos como históricos.
Com a idade, ambas tendem a perder eficiência. Parte disso se deve à queda na entrada de novas informações sensoriais — visão e audição, por exemplo, também envelhecem. No entanto, há tipos de memória que resistem bravamente. A do vocabulário (de longo prazo), por exemplo, permanece preservada até uma idade avançada. Por isso muitos idosos são bons em fazer palavras cruzadas.
A memória tem três fases principais:
Atenção e captação: acontece principalmente nos lobos frontais, quando entramos em contato com uma nova informação.
Consolidação: envolve o hipocampo e os lobos temporais. Aqui, as conexões neurais são reforçadas.
Evocação: é quando trazemos a lembrança à tona –mais uma vez com os lobos frontais no comando.
Se uma dessas etapas falha, a memória fica comprometida…

5 hábitos eficazes para manter a memória afiada
- Estilo de vida é tudo
Alimente-se bem (a dieta mediterrânea, por exemplo, é cheia de antioxidantes que protegem o cérebro), mexa o corpo (atividades combinadas, como musculação, aeróbica e alongamento são um supercombo) e durma bem. Um estudo da UFRJ identificou que a irisina, hormônio liberado durante o exercício, pode até reverter perdas de memória no Alzheimer
- Memória é prática
Aproveite as oportunidades que tiver, mesmo as pequenas, para treinar sua mente. Faça listas de cabeça, ligue para amigos sem olhar o número na agenda, estude algo novo de que goste, aprenda um idioma. Quanto mais você desafia seu cérebro, mais ele responde. - Conexões sociais importam (muito).
Conversar, rir, dividir histórias, se emocionar. Atividades sociais ativam várias áreas cerebrais. Manter vínculos é um dos segredos para retardar o declínio cognitivo.
- Use lembretes com inteligência
Agenda, calendário, despertador e notificações, tudo isso ajuda a liberar espaço na memória operacional porque facilitam o acesso a informações sem tanto esforço. “Ajude seu cérebro para que ele ajude você”, dizem os especialistas. - Calma: ansiedade afeta a atenção, que afeta a memória
Estar em estado de alerta constante atrapalha o processo de armazenar novas informações. Colocar atenção plena nas atividades que realiza melhora a fixação de dados na memória de longo prazo.
Quando é só um esquecimento e quando é um sinal de alerta?
Lapsos de memória ocorrem em todas as fases da vida e não devem surpreender tanto a partir de determinada idade. Pode ser considerado normal para um idoso, por exemplo, não conseguir se lembrar de algum nome ou palavra, mas chegar a ela depois de alguns segundos ou de uma deixa.
Já se a pessoa tiver algum grau de demência, não deve conseguir se recordar nem com pistas, pois a falha está no processo de retenção ou fixação da informação.
Se os esquecimentos se tornarem muito frequentes, comprometerem tarefas simples do dia a dia ou se a pessoa começar a repetir histórias sem perceber é preciso atenção. Quando há prejuízo nas atividades do cotidiano, é aconselhável buscar orientação médica.
fonte https://www.uol.com.br/
*Com informações de reportagem publicada em 18/10/2019…