Ambos tiveram participação na divulgação da ‘mãe de todas as mentiras’
Recentemente, fui contatado por uma jornalista que queria me entrevistar sobre aspectos financeiros da Petrobrás, para elaborar um artigo e publicação no site do Sindicato dos Petroleiros de São Paulo. Expliquei a ela que este sindicato era vinculado à FUP, braço do Partido dos Trabalhadores (PT), onde dificilmente publicariam minha opinião sobre a administração petista na companhia. A jornalista argumentou que era “free lancer” e que não encontraria objeções na publicação do artigo.
Concedi a entrevista e agora me deparei com seu artigo publicado no site do sindicato com o título “Afinal, o PT quebrou a Petrobrás”, que omite a maior parte da minha entrevista. Pelo que li, o artigo já foi replicado nas páginas da FUP e da Aepet, com grande repercussão.
De fato, entre 2015 e 2016, foi lançado o mais sórdido ataque à existência da Petrobrás na sua história. Foi criada a “mãe de todas as mentiras” (“A Petrobrás tinha sérios problemas financeiros, estava à beira da falência”).
É a “mãe de todas as mentiras”, transformada em verdade para o povo brasileiro, que, até hoje, sustenta a apatia da população em relação a tudo que vem ocorrendo com nossa maior estatal.
O fato de a Rede Globo ter atuado (e ainda atua), na divulgação da “mãe de todas as mentiras” não é de se estranhar, pois a emissora já procurava destruir a Petrobrás mesmo antes de sua criação (vejam o artigo “A saga da Petrobrás e a torpe atuação da Rede Globo” em aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/2184-a-saga-da-petrobras-e-a-torpe-atuacao-da-rede-globo)
O que causa revolta é verificar a dissimulada conivência do PT e da FUP sobre o assunto. No artigo o Sr. William Nozaki afirma: “Esta é uma fake news reproduzida de maneira sistemática na sociedade”, e o Sr. Cloviomar Cararine: “Isso não foi um problema porque a Petrobrás tinha capacidade de geração de riqueza para honrar com a dívida.”
Pergunto: onde eles estavam em janeiro de 2016 quando a FUP publicou edital com o título “Governo precisa se mexer para salvar a Petrobrás”, onde pontuava: “A empresa continua mergulhada em uma grave crise financeira” (fup.org.br/governo-precisa-se-mexer-para-salvar-a-petrobras).
Em janeiro de 2016, a Petrobrás tinha em caixa mais de US$ 20 bilhões e a liquidez corrente superior a 1,5. Em maio de 2016, Aldemir Bendine, ao passar o comando da empresa para Pedro Parente, declarou: “Entrego uma empresa com recursos suficientes para cumprir com seus compromissos financeiros nos próximos dois anos, independente de captação de novos recursos ou venda de ativos.”
Em 2016, a geração operacional de caixa da Petrobrás (US$ 26 bilhões) foi superior à de todas as petroleiras internacionais (Shell, Exxon, Chevron, BP e Total), e, no final do ano, sua liquidez corrente (1,8) era o somatório da liquidez da Chevron (1,0) e da Exxon (0,8).
Portanto FUP e PT tiveram e têm, até hoje, forte participação na divulgação da “mãe de todas as mentiras”. Isto é imperdoável.
A jornalista deixou de relatar no artigo importantes informações que lhe foram repassadas como:
1) O leilão de Libra em 2013, no governo Dilma.
2) O Plano de Negócios (2015-2019) do Bendine que previa a venda de mais de US$ 57 bilhões de ativos da companhia. Tudo já estava lá.
3) A política de preços (2014-2016), quando os preços no mercado interno chegaram a estar 70% acima do PPI (Preço de Paridade de Importação), incentivando os importadores e servindo de base para sua implantação definitiva, a do PPI, por Pedro Parente.
Cláudio da Costa Oliveira é economista aposentado da Petrobras.
Nota da Redação: o autor grafa “Petrobras” com acento no “á”.