É difícil hoje entender onde tudo isto vai levar o Brasil
INTRODUÇÃO
Em 2004 o ex-presidente Lula visitou a China levando em sua comitiva a maioria dos ministros e centenas de empresários. Diversos acordos foram firmados. Ainda em 2004 o então presidente da China, Hu Jintao , esteve visitando o Brasil, oportunidade em que o governo brasileiro concedeu à China o “status” de economia de mercado, sob forte protesto da Federação das Industrias de São Paulo – FIESP.
Cinco anos depois , em 2009, a China já era o principal parceiro comercial do Brasil, superando os Estados Unidos.
No encerramento do 4º Forum Empresarial Brasil / União Europeia, em julho de 2010, jornalistas estrangeiros questionaram Lula sobre o relacionamento do Brasil com a China e se isto não teria uma conotação ideológica. Lula respondeu: “Depois que os Estados Unidos elegeram a China como seu parceiro comercial preferencial, entendi que isto também deveria ser bom para o Brasil”.
Em 2019 o Brasil exportou para a China US$ 62,87 bilhões gerando um superávit comercial de US$ 27,60 bilhões para no nosso país.
Em novembro de 2019, o Grupo Bandeirante fechou acordo de cooperação com a gigante chinesa de comunicação China Media Group “O contrato prevê produções conjuntas e compartilhamento de conteúdo com o objetivo de promover o desenvolvimento das relações entre os dois países”
O Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) informou que os investimentos de empresas chinesas no Brasil, de 2007 a 2018, alcançaram US$ 100,5 bilhões.
Hoje, depois da Eletrobrás, são os chineses que mais possuem hidroelétricas no Brasil.
Hidroelétricas não absorvem mão de obra e muito menos consomem materiais ou novos equipamentos. Então qual o motivo dos chineses investirem em hidroelétricas no Brasil ?
Quem tiver esta resposta estará colaborando em muito para o futuro de nosso país.
GOVERNO BOLSONARO X CHINA
Em 2018, durante a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro por diversas vezes atacou a China, não só pelo fato de ser um país comunista, mas também por sua atuação no Brasil, dizia :”A China não está comprando do Brasil. Está comprando o Brasil”
No início de seu governo Bolsonaro , junto com Paulo Guedes, visitou os Estados Unidos Fizeram declarações de eterno amor ao Tio Sam. Bateram continência à bandeira americana. Entregaram a Embraer para a Boeing e Alcântara para Trump.
Em maio de 2019 o vice-presidente Hamilton Mourão visitou a China sendo recebido pelo presidente chinês Xi Jinping no Grande Salão do Povo em Pequim. Na ocasião Jinping disse que a relação entre os dois países estava em um “momento crucial”.
Durante a visita Mourão presidiu, ao lado do vice-presidente chinês Wang Qishan, o encontro da comissão bilateral sino-brasileira. Na ata da reunião Wang e Mourão “avaliaram positivamente os progressos recentes” e falaram sobre a preparação de um plano de dez anos (2022/2031).
Em novembro de 2019 o presidente chinês Xi Jinping visitou o Brasil e nosso presidente Jair Bolsonaro declarou “China cada vez faz mais parte do futuro do Brasil”.
Uma mudança radical de postura que nossa mídia entreguista não registrou.
Em março de 2020, o Gabinete de Segurança Institucional -GSI, comandado pelo Gen. Heleno, apesar dos protestos do governo americano, aprovou a participação da chinesa Huawei no leilão para implantação da tecnologia 5G no Brasil.
Em abril de 2020, em entrevista, o vice-presidente Hamilton Mourão declarou “O Brasil e a China têm um casamento inevitável”, relacionamento “por pragmatismo não por dogma”, e “a pandemia provocará mudanças significativas na geopolítica mundial. Aumentando o papel econômico estratégico da Ásia”.
Alguns setores do governo Bolsonaro ainda se opõem ao incremento do relacionamento Brasil x China, mas os fatos vão atropelar as rebeldias.
GOVERNO TRUMP X NEOLIBERALISMO GLOBALIZANTE
Nos anos 80 do último século, Ronald Reagan e Margareth Thatcher, promoveram o neoliberalismo mundial.
Nos dias atuais o Brexit e a eleição de Donald Trump trabalham no sentido inverso. Trump é um nacionalista que prioriza a “America First” e quer “America great again”. Esta é a orientação de Washington hoje.
Os grandes fundos de investimentos (a banca) não tem nação. Dinheiro não tem pátria.
Para entender o mundo atual é preciso compreender este conflito.
No governo Bolsonaro, o ex-ministro Sergio Moro tinha alinhamento com o pensamento nacionalista de Washington.
Segundo nosso amigo, grande escritor e pensador, Pedro Pinho, “O presidente do Brasil chama-se Paulo Guedes” e “Ele já estava designado pelo sistema financeiro internacional, pela banca, pela entidade supranacional que controla o dinheiro no mundo”.
Sem dúvida, Paulo Guedes é o principal representante da banca no governo Bolsonaro. Mas o neoliberalismo globalizante está em forte declínio em todo o mundo, principalmente depois da pandemia de coronavírus.
Apesar do programa Pró-Brasil, lançado pelo Chefe da Casa Civil do Governo, Gen. Braga Neto, por conveniência política, ter sido momentaneamente afastado da pauta, ele é o único caminho viável apresentado pelo governo até o momento.
Sendo assim o Pró-Brasil deverá ser retomado com força. Paulo Guedes, se continuar no governo, será figura decorativa.
Mas para que este programa venha a apresentar resultados expressivos será necessária a participação dos chineses e da Petrobrás, conforme tentei explicar no artigo “Programa Pró-Brasil é o caminho, mas precisa da participação Petrobrás/China”:
O CRESCIMENTO CHINÊS
Em algumas décadas de crescimento extraordinário a China se transformou na segunda maior economia mundial. Com 1,4 bilhão de habitantes o gigante asiático tem planos de expansão mundial.
O maior destes planos foi lançado por Xi Jinping em 2013 : a Nova Rota da Seda, também conhecida como One Belt One Road (Cinturão e Rota).
O plano objetiva transformar a China na maior economia mundial até 2049, data do centenário da Revolução Chinesa de 1949. Mas pela evolução o mais provável é que isto ocorra bem antes desta data.
Na Ásia os investimentos superam US$ 1,9 trilhão, 13 vezes maior que o plano Marshall, que resgatou a Europa após a segunda guerra.
O governo americano se sente tremendamente incomodado com o protagonismo chinês, mas não sabe como proceder. Ataca as empresas chinesas, mas sem argumentos consistentes.
O Brasil atualmente é peça fundamental no desenvolvimento da China. No Brasil ganha destaque a nossa Petrobrás com seu pré-sal.
O JOGO “GO”
Como é característica dos asiáticos, os chineses são pacientes e estrategistas. Isto não quer dizer que deixem de aproveitar oportunidades de momento.
O jogo de tabuleiro “GO” criado na China a mais de 2.600 anos e muito difundido na Coréia e Japão, talvez seja o indicativo do raciocínio chinês.
Neste jogo o principal objetivo não é capturar as peças do adversário mas ocupar o maior território possível com suas próprias peças.
Aprender a jogar o GO é muito fácil pois as regras são simples e poucas. O difícil é jogar o GO pois as opções de jogadas são dez vezes maiores do que no xadrez, por exemplo.
O jogo começa com o tabuleiro vazio e os adversários (2) colocam suas peças (pretas e brancas) alternativamente.
Normalmente, no início, cada jogador vai acumulando peças do seu lado do tabuleiro.
Para um jogador colocar uma de suas peças do lado onde estão acumuladas as peças do adversário é preciso que ele saiba com muita precisão quais serão as próximas jogadas suas e do adversário. Caso contrário ele poderá perder sua peça.
Com o relacionamento acentuado e investindo no Brasil como vem fazendo, os chineses estão colocando suas peças no campo do adversário.
Portanto eles têm consciência e sabem com precisão quais serão as próximas jogadas.
CONCLUSÃO
Infelizmente a imprensa brasileira se dedica à divulgação de novelas do tipo Moro x Bolsonaro. Assuntos relevantes que vão efetivamente modificar o futuro do país e seu povo não são estudados e divulgados.
A primazia da Banca será mantida em grande parte do planeta, pois o volume de recursos investidos é estratosférico e não vão sumir do dia para a noite.
Entretanto no Brasil, as peças chinesas já estão colocadas. O cerco já foi feito. Nâo tem volta.
Apesar da contrariedade de parcela dos integrantes do atual governo brasileiro (principalmente os ligados à banca), muitas vezes demonstrada, o incremento do relacionamento Brasil/China é inevitável.
Na verdade já é um fato.
É difícil hoje entender onde tudo isto vai levar o Brasil. Talvez seja necessário aprendermos a jogar muito bem o GO, para compreender.
Cláudio da Costa Oliveira
Economista da Petrobrás aposentado